A Igreja perante a modernidade e a secularização: uma análise à luz da Carta Encíclica Rerum Novarum

Abstract

Em meio ao tumultuado século XIX, o papado de Leão XIII (1878-1903) surge como uma leitura diferenciada de seus predecessores, registrados na Encíclica Rerum Novarum. Trata- se do primeiro documento do Magistério católico que aborda de maneira global os problemas decorrentes da sociedade urbano-industrial, em franco processo de secularização, identificando a necessidade de articulação ação entre Igreja, Estado, patrões e trabalhadores como solução dos problemas relacionados à questão social. Esta dissertação intenciona compreender como o discurso oficial da Igreja católica formulou um certo entendimento de sua política e papel social, em uma conjuntura marcada pelo processo de diferenciação das esferas sociais em relação à religião e o avanço do capitalismo, buscando contribuir para o conjunto de estudos de História Religiosa sobre a Igreja Católica e analisando a singularidade de Rerum Novarum frente a outros documentos papais, por ter apresentado uma visão mais significativa da Igreja em face das tendências da sociedade moderna e laica e, particularmente, na questão do trabalhadores. A pesquisa adota as categorias analíticas da Análise do Discurso Religioso, considerando a Encíclica leonina em diálogo com outras produções, com o contexto da época e com as concepções de que dispõe o seu formulador. Desta forma, a análise do discurso se desdobra em uma dimensão sincrônica - relativa ao papado de Leão XIII - e diacrônica, com o objetivo de perceber as transformações no significado dos termos, conceitos e da própria compreensão da Igreja Católica sobre o seu papel na sociedade. Ao analisarmos a sistematização do pensamento leonino, buscamos apreender a autocompreensão da Igreja que emerge de suas considerações sobre a sociedade ocidental moderna, marcada pelo avanço da secularização. Espera-se, assim, contribuir para o entendimento do papel da Igreja Católica como portadora de um projeto da modernidade, entendendo-a não como uma força que resiste ao mundo secularizado em construção, mas como agente deste processo, a partir de uma visão específica de si e da mundo ao seu redor, sem abrir mão de suas principais doutrinas e aspectos.