Fissura labiopalatina: relações entre temperamento e coping de pré-adolescentes e risco psicossocial familiar

Abstract

A fissura labiopalatina é um problema que exige cuidados médicos desde o nascimento até o final da adolescência, acarretando várias situações estressantes para o portador e sua família. Este estudo analisou os processos psicológicos envolvidos no enfrentamento (coping) de situações adversas relacionadas à doença e ao tratamento da fissura labiopalatina, incluindo o temperamento de pré-adolescentes, estresse dos cuidadores e risco psicossocial familiar. Participaram 22 díades, compostas por pré-adolescentes, com idade média de 11 anos, e seus cuidadores, em tratamento especializado. Foram coletados os seguintes dados, com seus respectivos instrumentos: a) dados descritivos da amostra, estresse e coping dos cuidadores, pela Ficha de Caracterização; b) risco psicossocial familiar, pelo Psychosocial Assessment Tool (PAT 2.0); c) temperamento dos pré-adolescentes, pelo Early Adolescence Temperament Questionnaire – Revised (EATQ-R); d) coping dos pré-adolescentes, pelo Responses to Stress Questionnaire – Cleft Lip and Palate (RSQ-CLP), adaptado para este estudo. A situação mais estressora pontuada pelos pré-adolescentes foi ter de usar aparelho ortodôntico. Eles apresentaram um nível de estresse médio (M = 19,27). O comportamento de coping que envolve reconhecimento de suporte social pelos pré-adolescentes foi o mais relatado pela amostra e a estratégia de enfrentamento mais expressiva foi a Aceitação. O Coping de Controle Secundário foi o mais frequente. As famílias apresentaram risco psicossocial médio (M = 1,19). Metade dos cuidadores referiu não vivenciar situação estressora relacionada ao tratamento, na coleta de dados. Foram identificadas relações significativas entre a presença de estresse autopercebido dos cuidadores com um maior nível de estresse e agressividade dos pré-adolescentes. O domínio de temperamento Afiliação foi o mais frequente para a amostra, sendo significativamente mais alto para os meninos. O tratamento longo e com diversos procedimentos invasivos na região da face tende a estimular a necessidade de vinculação dos pré-adolescentes junto a pessoas que oferecem suporte emocional e que os ajude na resolução de problemas consequentes da deformidade e/ou do tratamento, como pais e profissionais da saúde. Esses resultados indicam a necessidade de oferta de uma assistência integrada e multiprofissional a essa população, que incluam ações que minimizem os efeitos danosos dos fatores de risco psicossocial vivenciados pelas famílias mais vulneráveis.

The cleft lip and palate is a problem that requires medical care from birth until the end of adolescence, causing several stressful situations for the child and his family. This study analyzed the psychological processes involved in coping with adverse conditions related to the malformation and the treatment of cleft lip and palate, including temperament of preadolescents, stress of caregivers and family psychosocial risk. 22 dyads, composed of preadolescents with an average age of 11 years in specialized treatment and their caregivers, participated in the research. The following data were collected with their respective instruments: a) descriptive data of the sample, stress and coping of caregiver through the Characterization Form; b) family psychosocial risk through Psychosocial Assessment Tool (PAT 2.0); c) temperament of preadolescents through Early Adolescence Temperament Questionnaire – Revised (EATQ-R); d) coping of preadolescents by Responses to Stress Questionnaire – Cleft Lip and Palate (RSQ-CLP), adapted for this study. The most stressful situation pointed out by young people was having to wear orthodontic braces. They exhibited an average stress level (M = 19.27). The coping involving recognition of social support by the preadolescents was the most reported by the sample and the most expressive coping strategy for the group of preadolescents was Acceptance. The Secondary Control Coping was the most frequent. The families presented an average psychosocial risk (M = 1.19). Half of the caregivers reported not experiencing stressful situations related to the treatment, in data collection. Significant relationships were identified between the presence of self-perceived stress of the caregivers with a higher level of stress and aggressiveness of the preadolescents. The domain Affiliation temperament was the most frequent for the sample, being significantly higher for the boys. The extended treatment with various invasive procedures on the face region tends to stimulate the need for preadolescents to be associated with people who offer emotional support and assist them in solving problems resulting from deformity and / or treatment, such as parents and health professionals. These results indicate the necessity to offer an integrated and multiprofessional assistance to this population, including actions that minimize the harmful effects of the psychosocial risk factors experienced by the most vulnerable families.