O esporte como ferramenta para a promoção da autorregulação da aprendizagem de habilidades profissionais em pessoas com deficiência intelectual

Abstract

O presente estudo, pautado na teoria sociocognitiva (TSC), parte da hipótese de que experiências lúdicas pautadas na prática de jogos e esportes oportunizadas às pessoas com deficiência intelectual (DI) podem promover a autorregulação da aprendizagem (AA) e favorecer o desenvolvimento de habilidades profissionais. O objetivo da pesquisa foi criar e avaliar um programa de práticas em jogos e esportes ("DEZPORTIVO") como ferramenta para promoção da AA de habilidades profissionais por pessoas com DI que frequentam instituições de atendimento especializado (IAE) e/ou o ensino regular. O programa foi apresentado no formato de material didático constituindo-se de: (a) uma narrativa (história ferramenta) em que os personagens atuam como modelo de autorregulação e os contextos articulam-se com as atividades propostas; (b) um roteiro de práticas de jogos e esportes que estimulavam o "PLanejar" ("Bocha"), "Executar" ("Voleibol Adaptado") e "Avaliar" ("Tchoukball"); (c) complementado por uma proposta de dinâmica para feedbacks. Participaram da pesquisa, 42 professores especialistas (juízes) com idade entre 26 e 86 anos (Md=42 anos; Mo=38 anos; IQR=19,3 anos), divididos em 03 grupos: (a) GAA (N=16), constituído por professores de diferentes áreas de formação que declararam possuir formação e/ou experiência com a AA; (b) GEF (N=19), constituído por professores com formação em Educação Física (EF) que declararam não possuir formação e/ou experiência com a AA; (c) GEF/AA (N=07), constituído por professores com formação em EF que declararam possuir também formação e/ou experiência com a AA. Para avaliar o mérito e potencial do programa "DEZPORTIVO", os professores analisaram o material didático e responderam a um questionário (escala likert) constituído de 38 questões (Q) divididas em 5 dimensões (D): D1 - Adequação da proposta, Organização e Estrutura do Projeto (D1-Q1 a D1-Q9); D2 - Estrutura da Narrativa (D2-Q1 a D2-Q8); D3 - Roteiro de atividades propostas (D3-Q1 a D3-Q4); D4: Promoção das Estratégias de AA (D4-Q1 a D4-Q10); D5 - Possibilidades didáticas e transferência (D5-Q1 a D5-Q7). Cada questão foi complementada por espaço facultativo para justificativa. Os dados quantitativos geraram gráficos de concordância (%) e comparações entre os grupos: Qui-Quadrado (x2 ) para variáveis qualitativas nominais e Kruskal-Wallis para variáveis qualitativas ordinais. As dissertações facultativas geraram corpus textuais para as análises de Similitude e Classificação Hierárquica Descendente (CHD), realizadas pelo software IRaMuTeQ. Diferenças estatísticas foram encontradas em 4 das 38 questões objetivas, mais especificamente, referentes aos temas: “uso das ilustrações para ensinar as estratégias de AA” (D2-Q7); “uso das ilustrações para ensinar o PLEA” (D2-Q7); “ensino da estratégia de procura de informação” (D4-Q6) e “estímulo ao recurso de tutoria” (D5-Q2). Entretanto, as respostas apresentadas pelos professores não tiveram associação com o perfil do grupo que eles integravam. Os elevados valores médios dos níveis de concordância em todas as questões avaliadas pelos grupos GAA (D1 - 91,25%; D2 - 92,97%; D3 - 89,06%; D4 - 90,63%; D5 - 92,61%), GEF (D1 - 95,26%; D2 - 98,68% D3 - 98,68%; D4 - 98,42%; D5 - 99,04%) e GEF/AA (D1 - 95,71%; D2 - 100,00% D3 - 100,00%; D4 - 100,00%; D5 - 100,00%) permitem concluir que o potencial do material didático foi reconhecido como adequado e relevante para o trabalho em IAE e Ensino Regular. Vale destacar a sugestão dos especialistas para ações de formação dos professores para maior assertividade no alcance dos resultados, mais especificamente no que se refere ao: (a) domínio da TSC e referenciais da AA; (b) atenção às necessidades de adaptação conforme as individualidades cognitivas das pessoas com DI; (c) possíveis ajustes na dinâmica de feedbacks para garantir a motivação dos alunos; (d) atenção às articulações das habilidades esportivas e estratégias de AA para auxiliar os alunos no processo de transferência do conhecimento para a promoção da AA de habilidades profissionais.

The present study, based on the sociocognitive theory (TSC), starts from the hypothesis that ludic experiences based on the practice of games and sports provided to people with intellectual disabilities (ID) can promote self-regulation of learning (AA) and aid the development of professional skills. The objective of the research was to create and evaluate a program of practices in games and sports ("DEZPORTIVO") as a tool for promoting the AA of professional skills by people with ID who attend specialized care institutions (IAE) and/or regular education. The program was presented in the form of didactic material consisting of: (a) a narrative (story-tool) in which the characters act as a model of self regulation and the contexts articulate with the proposed activities; (b) a plan of game and sport practices that stimulated "Planning" ("Bocce"), "Executing" ("Adapted Volleyball") and "Evaluating" ("Tchoukball"); (c) complemented by proposal for feedbacks. The research included 42 specialist teachers (judges) aged between 26 and 86 years old (Md =42 years old; Mo=38 years old; IQR=19.3 years old), divided into 03 groups: (a) GAA (N=16), consisting of teachers from different training areas who declared having training and/or experience with AA; (b) GEF (N=19), consisting of teachers trained in Physical Education (PE) who declared having no training and/or experience with AA; (c) GEF/AA (N=07), teachers trained in Physical Education who also declared having training and/or experience with AA. To assess the value and potential of the "DEZPORTIVO" program, the teachers analyzed the didactic material and answered a questionnaire (likert scale) consisting of 38 questions (Q) divided into 5 dimensions (D): D1 - Adequacy of the proposal, Organization and Project Structure (D1-Q1 to D1-Q9); D2 - Narrative Structure (D2-Q1 to D2-Q8); D3 - Progression of proposed activities (D3-Q1 to D3-Q4); D4: Promotion of AA Strategies (D4- Q1 to D4-Q10); D5 - Didactic possibilities and transference (D5-Q1 to D5-Q7). Each question was complemented by an optional space for justification. Quantitative data generated agreement graphs (%) and comparisons between groups: Chi-Square (x2 ) for nominal qualitative variables and Kruskal-Wallis for ordinal qualitative variables. The optional dissertations generated textual corpus for the analysis of Similitude and Descending Hierarchical Classification (DHC), performed by the Iramuteq software. Statistical differences were found in 4 of the 38 objective questions, more specifically referring to the themes: “use of illustrations to teach AA strategies” (D2-Q7); “use of illustrations to teach PLEA” (D2-Q7); “teaching the information search strategy” (D4-Q6) and “encouraging the tutoring resource” (D5-Q2). However, the answers presented by the teachers were not associated with the profile of the group they were part of. The teachers belonging to the GAA were the most judicious in their positions regarding the levels of agreement and frequency of dissertations with criticism and/or suggestions. The high mean values of agreement levels in all questions evaluated by the GAA groups (D1 - 91.25%; D2 - 92.97%; D3 - 89.06%; D4 - 90.63%; D5 - 92.61 %), GEF (D1 - 95.26%; D2 - 98.68% D3 - 98.68%; D4 - 98.42%; D5 - 99.04%) and GEF/AA (D1 - 95.71% ; D2 - 100.00% D3 - 100.00%; D4 - 100.00%; D5 - 100.00%) allow us to conclude that the potential of the didactic material was recognized as adequate and relevant for working with IAE and Regular Education . It is worth highlighting the specialists' suggestion about teacher training for greater assertiveness in achieving results, specifically regarding: (a) proficiency in TSC and AA references; (b) attention to adaptation needs according to the cognitive individualities of people with ID; (c) possible adjustments to the proposal for feedbacks to ensure students’ motivation; (d) attention to the articulations of sport skills and AA strategies to assist students in the process of transferring knowledge to promote AA of professional skills.