Os sentidos da tecnologia para estudantes do Ensino Médio público

Abstract

Este estudo objetivou investigar os sentidos da tecnologia para estudantes do Ensino Médio público e seu potencial como ferramenta de transformação da relação do sujeito com o conhecimento escolarizado. Frente ao contexto pandêmico ocasionado pelo novo coronavírus, o uso de tecnologia tornou-se essencial para a manutenção de demandas emergentes da vida cotidiana. Especificamente falando da escola, professores e gestores se viram diante do desafio de buscar soluções possíveis, para garantirem o acesso ao conhecimento escolarizado via ensino remoto. Para além da pandemia, vivemos um contexto histórico mobilizado pela tecnologia. Sustentada pelos pressupostos teórico-metodológicos da Psicologia Histórico-Cultural, sobretudo os conceitos de Lev Semionovitch Vigotski, foram realizados quatro encontros com duração média de 1h com uma turma composta por aproximadamente 40 alunos do segundo ano do Ensino Médio de uma instituição pública estadual de Ensino Fundamental II e Médio, localizada no interior do Estado de São Paulo, além de quatro entrevistas semiestruturadas visando aprofundar alguns temas. Nos encontros mediados pelo uso de materialidades artísticas, os adolescentes foram convidados a compartilhar suas percepções em relação ao uso de tecnologias, o ensino escolarizado e sua vida cotidiana. As entrevistas foram realizadas com quatro adolescentes indicados pela turma como os “mais conectados” e tiveram a duração média de 40 minutos. Além da gravação e transcrição dos encontros e das entrevistas, como estratégia complementar foram utilizados os diários de campo produzidos pela psicóloga-pesquisadora. Os resultados revelam que as ferramentas tecnológicas mais presentes no cotidiano dos adolescentes são o celular e as redes sociais. Evidencia-se ainda que na escola, o uso de ferramentas tecnológicas não é funcional, devido à falta de familiaridade com essas ferramentas, tanto por parte dos alunos quanto dos professores, e às limitações de infraestrutura. Desta forma, ao não conhecerem as aplicabilidades das ferramentas tecnológicas, poucas são as alternativas de escolha e consequentemente, as possibilidades de os adolescentes atribuírem novos sentidos a tais ferramentas para além de uso cotidiano, como ouvir música, assistir filmes etc. Diante de tamanha complexidade, ressalta-se a importância do papel do psicólogo escolar na criação de espaços coletivos em prol da transformação da realidade escolar e a necessidade do desenvolvimento de novas pesquisas que se debrucem sobre a relação entre psicologia e tecnologias, mais precisamente, o papel das tecnologias no desenvolvimento humano e na produção de novos modos de pensar e ser de adolescentes da periferia.

This study aimed to investigate the meanings of technology for public high school students and its potential as a tool for transforming the subject's relationship with school knowledge. Given the pandemic context caused by the coronavirus, the use of technology has become essential for maintaining the emerging demands of everyday life. Specifically with regard to schools, teachers and managers have been faced with the challenge of finding possible solutions to guarantee access to school knowledge via remote learning. Beyond the pandemic, we are living in a historical context mobilized by technology. Supported by the theoretical-methodological assumptions of Historical-Cultural Psychology, especially the concepts of Lev Semionovich Vygotsky, four meetings lasting an average of 1 hour were held with a class of approximately 40 second-year high school students from a state public elementary and secondary school, located in the interior of the state of São Paulo, in addition to four semi-structured interviews aimed at delving deeper into some topics. Mediated by the use of artistic materialities, the teenagers were invited to share their perceptions of the use of technology, school education and their daily lives. The interviews were carried out with four teenagers indicated by the class as the "most connected" and lasted an average of 40 minutes. As well as recording and transcribing the meetings and interviews, the field diaries produced by the psychologist researcher were used as a complementary strategy. The results show that the technological tools most present in adolescents' daily lives are cell phones and social networks. It is also evident that the use of technological tools is not functional at school, due to the lack of familiarity with these tools, both on the part of the students and the teachers, and the limitations of the infrastructure. As a result, when they don't know the applications of technological tools, there are few alternatives to choose from and, consequently, few possibilities for teenagers to give new meanings to these tools beyond everyday use, such as listening to music, watching movies, etc. Given this complexity, the importance of the school psychologist's role in creating collective spaces for transforming school reality is highlighted, as is the need for further research into the relationship between psychology and technology, more precisely the role of technology in human development and in producing new ways of thinking and being for adolescents from the periphery.