Emancipação feminina sob autoridade masculina: aspectos religiosos e sociais das mulheres assembleianas no Brasil

Abstract

A presente pesquisa tem por objetivo investigar os aspectos que definem o “lugar” da mulher no contexto religioso brasileiro das Assembleias de Deus. Para isso, foi necessário trabalhar com fenômenos que são de suma importância para delinear os meandros deste evento, que ultrapassam as questões religiosas e se encontram totalmente envolvidos também com ditames sociais, tornando pertinente nomear esta análise como algo que permeia os dois universos, ou seja, como uma investigação que é em seu cerne social e religiosa. Assim sendo, do ponto de vista da religião, tomam-se as Assembleias de Deus como foco central, buscando compreender as características principais dessa denominação, a partir da construção de uma análise de conteúdo que abarca algumas mídias que tem como público-alvo as mulheres cristãs e assembleianas. Já do ponto de vista social, tendo como ferramenta metodológica a perspectiva weberiana, a partir dos seus tipos “puros” de dominação e a questão do poder, procurou-se fazer uma leitura sociológica acerca da condição feminina e, consequentemente, da mulher pentecostal e assembleiana, mediante a construção de um olhar teórico que auxilia na apreensão de um panorama que, por vezes, se encontra condicionado a uma situação de submissão/inferioridade das mulheres, na qual os homens detém para si todos as condições para se manter em posição de superioridade, ao mesmo tempo em que determinam o gênero feminino como dispensável, oferecendo um falso poder a elas na medida em que tal prática atende aos seus próprios interesses de dominador, retirando-lhes toda a sua autonomia. Tais pontos estão em constante diálogo entre si, e é justamente através dessa relação que se constrói uma reflexão acerca da história das categorias “Assembleias de Deus” e “mulheres”, levando em consideração os possíveis avanços e retrocessos, a tradição como estagnação, a moral como “lei inviolável” e o poder absoluto para poucos uma norma, impactando diretamente no desenvolvimento da sociedade contemporânea.

In the midst of the tumultuous nineteenth century, the papacy of Leo XIII (1878-1903) appears as a different reading from its predecessors, recorded in the Encyclical Rerum Novarum. This is the first document of the Catholic Magisterium that addresses globally the problems arising from urban-industrial society, in a frank process of secularization, identifying the need for articulation of action between Church, State, bosses and workers as a solution to problems related to the social issue. This dissertation intends to understand how the official discourse of the Catholic Church formulated a certain understanding of its politics and social role, in an environment marked by the process of differentiation of the social spheres in relation to religion and the advance of capitalism; seeking to contribute to the set of Religious History studies on the Catholic Church, analyzing the uniqueness of Rerum Novarum compared to other papal documents, for having presented a more significant vision of the Church in the face of trends in modern and secular society and, particularly, in workers issue. The research adopts the analytical categories of the Analysis of Religious Discourse, considering the leonine Encyclical in dialogue with other productions, with the context of the time and with the conceptions available to its formulator. In this way, the discourse analysis unfolds in a synchronic dimension - related to the papacy of Leo XIII - and diachronic, in order to understand the changes in the meaning of terms, concepts and the Catholic Church's own understanding of its role in society. When analyzing the systematization of Leo thought, we seek to apprehend the Church's self-understanding that emerges from her considerations about modern Western society, marked by the advance of secularization. It is hoped, therefore, to contribute to the understanding of the role of the Catholic Church as the bearer of a project of modernity, understanding it not as a force that resists the secularized world under construction, but as an agent of this process, based on a specific vision themselves and the world around them, without giving up their main doctrines and aspects.