Notícias do lugar que restou: sobre objetos e memória na condição do refúgio

Abstract

Esta dissertação pretende narrar um momento da vida de Hanoi, venezuelana de Caracas, que desde 2018 se refugia no Brasil. Ao abandonar seu país, Hanoi elege trazer consigo, como objeto de recordação de sua vida pregressa, a caixinha de música de sua filha. Por que trazer um objeto? Esta simples pergunta dispara um sem-número de reflexões sobre a natureza do refúgio. Podemos refletir sobre a escolha do objeto como um espaço de recordação, como uma relação entre passado-presente-futuro, mas também como representação da resistência à situação de refúgio e do futuro que está por vir. Minha hipótese é que os objetos são mensageiros de narrativas pessoais, ou seja, eles representam algum tipo de promessa que pode apontar para a possibilidade de pertencimento ao novo lugar, com novas experiências, novas inserções e ressonâncias para o refugiado/a, assim como para o país que o/a acolheu.

This thesis seeks to recount a moment in the life of Hanoi, born in Caracas, Venezuela, who has been living in Brazil as a refugee since 2018. When she left her country, Hanoi chose to bring along a memento of her former life: her daughter's music box. Why bring an object? The simple question touches off a flood of reflections on the nature of refuge. The choice of an object can be seen in terms of a space of memory or a relationship between past, present, and future, but it may also serve as a representation of resistance throughout the refugee condition and the future that lies ahead. My hypothesis is that objects are the bearers of personal narratives: they represent a sort of promise, hinting at the possibility of belonging to a new place, with new experiences, new relationships and constellations of meaning for the refugee, as well as for the country that took them in.