Narrativas Interativas de presidiários sobre a experiência da paternidade

Abstract

Estudos preliminares indicam que as barreiras impostas pelo sistema prisional têm sido um grande desafio para a manutenção dos vínculos familiares e para a prática parental saudável, afetando o bem estar físico e mental tanto de presos quanto de seus filhos. Este estudo qualitativo, de inspiração psicanalítica, visa compreender a experiência paterna de presidiários. Participaram deste estudo 41 pais encarcerados adultos que estavam cumprindo pena em uma penitenciária do interior do Estado de São Paulo, sendo divididos em quatro grupos para uma entrevista coletiva. Foi elaborada uma Narrativa Interativa, de modo a focalizar a questão da paternidade na prisão, para que fosse completada livremente pelos participantes. Como segunda etapa do procedimento foi proposta uma discussão em grupo sobre o tema da paternidade no cárcere. Os encontros foram registrados pela pesquisadora sob a forma de narrativas. O material narrativo colhido foi tomado como expressão coletiva dos prisioneiros, sendo submetido à consideração psicanalítica, em busca dos sentidos afetivo-emocionais que a experiência da paternidade toma na prisão. Os achados deste estudo confirmam pesquisas anteriores no que se refere aos benefícios da aproximação entre pais encarcerados e filhos, aos sentimentos paternos desencadeados pelo isolamento e separação dos filhos, ao histórico familiar de pais ausentes ou violentos, à importância das visitas e cartas para a manutenção do vínculo pai-filho, à esperança de recuperar o tempo perdido na cadeia retomando o envolvimento com o filho, quando em liberdade, à preocupação com o futuro dos filhos e com a imagem de pai que ajudou a construir, a sentimentos de culpa, arrependimento e impotência diante do que o filho vive durante o aprisionamento do pai. Considerações são feitas sobre a necessidade de intervenções que visem às demandas dos participantes para o exercício da paternidade na prisão.

Preliminary studies have indicated that the barriers imposed by the penitentiary system have been a great challenge for the maintenance of family bonds and for the healthy exercise of parenthood, affecting both the physical and mental wellbeing of inmates as well as their children‟s. This qualitative study, of psychoanalytical inspiration, aims to understand the fatherhood experience of inmates. 41 adult inmates serving their time in a penitentiary from the inner state of Sao Paulo have partaken of this study, which were later divided into four groups to a group interview. An interactive narrative was elaborated, in a way that it focused the matter of fatherhood in prison, in order to be freely completed by the participants. A group discussion about fatherhood in prison was proposed as a second stage of the procedure. The researcher has been registered the encounters in the form of narratives. The collected narrative material was then taken as a collective expression of the inmates, being then submitted to psychoanalytical consideration in search of the affective-emotional meanings that the fatherhood experience assumes in a correctional facility. The findings of this study confirm previous researches when it comes to the benefits of closeness between imprisoned fathers and children, to the father‟s feelings triggered by the isolation and separation from the child, to the family history of absent and violent fathers, to the importance of visits and letters to the maintenance of father-child bond, to the hope of recuperating the lost time in prison regaining the involvement with the child, when freed from prison, to the worrying about the child‟s future and about the father image that his experience in prison helped build, to the feelings of guilt, regret and impotence in face of what the child lives during his/her father‟s imprisonment. Considerations are made about the need for intervention to the participants‟ demands for the exercise of fatherhood in prison.