Mulheres líderes e seus desafios: reflexões a partir da teoria da justificação do sistema

Abstract

As mulheres vêm gradualmente conquistando mais posições de liderança nas organizações, porém fatores como diferença de remuneração e restrições de oportunidades de carreira em função de preconceitos e da maternidade revelam que ainda enfrentam desvantagens no contexto profissional. Tais elementos podem remeter a estruturas implícitas, especialmente sob a forma de estereótipos de gênero, capazes de operar em fenômenos sociais, políticos, culturais e laborais, exercendo impacto sobre a manutenção de adversidades. Este estudo objetivou compreender vivências e desafios de mulheres líderes a partir da ótica da própria mulher, assim como verificar se existem estereótipos implícitos que possam funcionar como legitimadores da sua discriminação no ambiente de trabalho. A estratégia metodológica utilizada foi uma pesquisa qualitativa fenomenológica baseada na construção de narrativas compreensivas a partir de encontros dialógicos com doze mulheres que ocupavam diferentes níveis de cargos de liderança em empresas localizadas nas cinco regiões brasileiras, tendo como base a pergunta norteadora “Como é para você, ser líder e mulher?”. As narrativas foram escritas logo após cada encontro dialógico como registros dos elementos reveladores do encontro intersubjetivo e apresentadas para ajustes e validação por parte delas. Ao final, foi elaborada uma narrativa síntese, a partir da qual foram identificadas quatro categorias de elementos estruturais do fenômeno: (1) superação de barreiras corporativas e sociofamiliares; (2) adoção de estilos de liderança pautados por estereótipos de gênero; (3) valorização de vínculos emocionais afetivos com as equipes e (4) vivências de conflito entre vida pessoal e profissional, discutidas a partir da Teoria da Justificação do Sistema. Foi possível constatar o 8esforço empregado por elas para romper preconceitos, desafios profissionais e pessoais, bem como a existência de estereótipos implícitos acerca de supostas lideranças feminina e masculina e o funcionamento destes, especialmente em termos do senso deprimido de direito e mobilidade individual, de acordo com a Teoria da Justificação do Sistema. Conclui-se que é necessário promover condições de trabalho mais justas e favoráveis ao exercício da liderança por mulheres, com destaque para a conciliação entre trabalho e vida pessoal, em lugar de se pensar características de liderança vinculadas ao gênero.

Women have been gradually acquiring more leadership positions in organizations, but factors such as differences in pay rate and restrictions on career opportunities due to prejudice and motherhood reveal that they still face disadvantages in the professional context. Such elements can refer to implicit structures, especially in the form of gender stereotypes, capable of operating in social, political, cultural and labor phenomena, having an impact on the maintenance of adversity. This study aims to understand the experiences and challenges of female leaders from the perspective of the woman herself, as well as to verify if there are implicit stereotypes that can function as legitimizers of her discrimination in the workplace. The methodological strategy used was a qualitative phenomenological research based on the construction of comprehensive narratives through dialogical meetings with twelve women who held different levels of leadership positions in companies located in the five Brazilian regions, based on the guiding question “How is it for you, to be a leader and a woman?”. The narratives were written right after each dialogical meeting as records of the elements that reveal the intersubjective meeting and presented for adjustments and validation by them. At the end, a synthesis narrative was elaborated, from which four categories of structural elements of the phenomenon were identified: (1) overcoming corporate and social and family barriers; (2) adoption of leadership styles based on gender stereotypes; (3) appreciation of emotional bonds with the teams and (4) experiences of conflict between personal and professional life, discussed based on the System Justification Theory. It was possible to see the effort made by them to break prejudices, professional and personal challenges, as well as the existence of implicit 10stereotypes about the supposed female and male leadership and their functioning, especially in terms of the depressed sense of entitlement and individual mobility, according to the System Justification Theory. We conclude that it is necessary to promote fair and favorable working conditions for the exercise of leadership by women, with emphasis on the reconciliation between work and personal life, instead of thinking about leadership characteristics linked to gender.