dc.description.abstract | Este estudo tem como objetivo reconstituir e analisar o discurso e as representações a respeito das práticas e crenças religiosas do povo brasileiro, presentes nos escritos do viajante francês Auguste de Saint-Hilaire, que esteve no Brasil nos anos de 1816 a 1822. Analisando suas obras que registram e estudam prioritariamente a fauna e a flora brasileira, escritas na primeira metade do século XIX, é possível identificar nas entrelinhas, nas observações marginais, nas insinuações deliberadas, na descrição dos lugares, dos costumes e das pessoas, toda uma visão de mundo do autor, que se desdobra num retrato parcial e instigante das múltiplas dimensões da sociedade brasileira em formação. Destacamos, sobretudo, a imagem construída a respeito das seguintes dimensões religiosa: a vida do clero secular e religioso, catolicismo tradicional e popular, religiosidade popular, Igrejas e artes sacras, festas religiosas, procissões e dias santos. Imagens construídas que captam um processo de formação de identidade na mediação da visão do outro. Decorre disso a riqueza dos relatos de viajantes como fonte de estudos sobre a formação do Brasil. Como perspectiva de análise, optamos pela História Cultural, por oferecer condições para a interpretação e avaliação dos trechos selecionados das obras do viajante. A partir de uma revisão bibliográfica, utilizamos como referência nesse estudo um conjunto de trabalhos que debruçou-se sobre a literatura de viagens, de modo particular os que tomaram como fonte os relatos de Saint-Hilaire. Estudamos a literatura de viagem, procurando destacar suas matrizes políticas e econômicas, seus discursos representativos, cultural e histórico. Sugerimos uma análise dos relatos produzidos pelo viajante a partir do conceito de “representação” discutido por Roger Chartier, ou seja, uma concepção do outro a partir do seu mundo cultural. Mas também incorporamos o conceito de retórica da “alteridade” utilizada por François Hartog, que ao aproximar o “outro” do “nós”, procura perceber as suas diferenças e traduzi-las para a linguagem do outro. Ambas as noções nos auxiliaram a pensar sobre o significado das narrativas e expressões do mundo religioso presente no discurso de Saint-Hilaire. Analisando-as no contexto histórico europeu, francês e brasileiro, que o viajante viveu e escreveu suas obras, bem como, da relação politica-religiosa e cultural entre Igreja e Estado. O uso das noções apontadas terminou por afetar não apenas os resultados a que chegamos, mas também o caminho que seguimos. Como resultado a constatação do caráter incontornável da religião e sua importância para a compreensão dos processos complexos de nossa formação cultural. No que diz respeito aos caminhos da análise, constatamos que enfocar a religião abre a perspectiva de articular dimensões da realidade que outros estudos evitam fazer, por exemplo, a relação pública e privada, sagrada e profana, Igreja e Estado, religião e cultura. Após a contextualização e analise crítica do discurso de Saint-Hilaire sobre essa religiosidade, discutimos os seus relatos como fonte de pesquisas, e como problema, a possibilidade de transformar esse discurso representativo enquanto tradução dessa religiosidade num instrumento para o estudo religioso e cultural no período oitocentista e contemporâneo. | |
dc.description.abstract | The paper presents an examination of the concept of the public sphere and its relation to the reasoned discourse of religious confessions, from the perspective of the philosopher Jürgen Habermas, in a post-secular context. In the first chapter, we try to reconstruct the concept of the public sphere and its importance for the democratic rule of law. It is argued in favor of a concept of the public sphere that meets the demands of the post-secular liberal state, open to the confessional perspectives, but without dispensing with them. In the second chapter, we seek to identify some peculiarities of religious discourse that allow it to appear among the voices that make up plurality, as opposed to those that make it unfeasible in public contexts. The third chapter seeks to explain some criteria that guide the validation of religious perspectives when inserted in the public sphere. Finally, we intend to consider the secular / post-secular process that implies the repositioning of religion before the spheres of life and the system. It is argued that the displacement of the value-axis, provided by the anthropological reversal advocated by the Enlightenment tradition, left open the question of religion for the individual, whose revaluation reaches the present times. | |