Práticas discursivas colaborativas: possibilidades (des)envolventes para a alfabetização na educação infantil

Abstract

Em tempos de supervalorização de métodos de alfabetização, de expansão acelerada de discursos divergentes, contraditórios e até antagônicos sobre o currículo da Educação Infantil, de políticas públicas voltadas para a formação docente, mobilizando compreensões cindidas entre alfabetizar e letrar, cuidar e educar, entre outras dicotomias, é necessário e urgente ampliar conhecimentos sobre a linguagem escrita como constituinte do pensamento elaborado. Frente a esse desafio, defendemos a tese de que situações discursivas colaborativas, entre o pesquisador e o professor, têm potencial para revelar complexidades que perpassam o fazer docente e fortalecer o enfrentamento de tensões no processo de alfabetização na Educação Infantil. Para isso, visamos, junto de uma professora de pré-escola, buscar conhecimentos relacionados à escrita para construir transformações e fomentar rupturas, resistências e continuidades na luta pelo direito à alfabetização, no e com o primeiro segmento da Educação Básica. Especificamente, nossos objetivos são: i) explorar o trabalho pedagógico voltado para a alfabetização de uma turma de pré-escola pública; ii) dialogar com a professora sobre o que ela pensa e o que faz; iii) efetivar possibilidades envolventes e brincantes de alfabetizar na Educação Infantil; iv) fomentar superações na e da prática educativa efetivada em uma região de alta vulnerabilidade social. Esta pesquisa fundamenta-se nos aportes da Teoria HistóricoCultural, é de natureza empírica e ancora-se nos princípios metodológicos do materialismo histórico-dialético. Dela, participam: uma pesquisadora de doutorado, uma professora de pré-escola pública, da periferia do interior do estado de São Paulo, e seus alunos de 4 e 5 anos. Durante o segundo semestre de 2019 e primeiro semestre de 2020, o material empírico foi produzido por: i) observações semanais videofilmadas das atividades voltadas para a alfabetização, ii) análises de materiais produzidos e utilizados pela docente e, iii) diálogos constituídos entre professora e pesquisadora, presencialmente e por WhatsApp. A partir das análises ordenadas por eixo cronológico, sobre as situações empíricas constituídas na individualidade da turma, identificamos relevância das políticas voltadas para a alfabetização valorizarem e oportunizarem formas de escuta mútua, entre o professor e o pesquisador, bem como outros educadores e/ou profissionais, de dentro da escola e de fora dela, complementando continuamente o olhar docente e fortalecendo o enfrentamento das tensões que emergem, permanentemente, na prática educativa. Percebemos que além dos momentos discursivos revestidos de narrativas, literatura, ludicidade e valorização da atividade imaginativa movimentarem as práticas voltadas para o processo de alfabetização, e envolverem a integralidade da constituição dramática do psiquismo infantil e da formação docente em serviço, esses precisam alcançar os familiares (pais e responsáveis dos alunos) e toda a comunidade escolar, a fim de explicar e formar a sociedade sobre a importância de cada escolha pedagógica para a alfabetização das crianças. Constatamos que, nos bairros nos quais a presença da escrita é bastante reduzida, para alcançar projetos de sociabilidade mais justos e mais igualitários, além de ampliar o acesso às práticas de alfabetização pautadas por formas de linguagem mais complexas, desde o primeiro segmento da Educação Básica, é necessário também aprofundar o olhar sobre as condições de permanência e continuidade dessas e os sentidos produzidos pelos sujeitos que nela se relacionam entre si. E, finalizamos evidenciando que, para que o processo de alfabetização se efetive em sua totalidade, de modos desenvolventes, os momentos discursivos constituídos no interior de cada prática educativa precisam ultrapassar os limites do corpo docente e dos muros da escola e emergir também no cerne da produção de conhecimentos científicos em dimensões coletivas mais amplas, como a gestão centralizada dos sistemas públicos de ensino e a prática de pesquisa das universidades.

n times of overvaluation of literacy methods, of accelerated expansion of divergent, contradictory and even antagonistic discourses on Early Childhood Education curriculum, of public policies aimed at teacher training, mobilizing split understandings between literacy, caring and educating, among other dichotomies, it is necessary and urgent to expand knowledge about written language as a constituent of elaborate thought. Faced with this challenge, we defend the thesis that collaborative discursive situations, between the researcher and the teacher, have the potential to reveal complexities that permeate teaching and strengthen the confrontation of tensions in the literacy process in Early Childhood Education. For this, we aim, together with a preschool teacher, to seek knowledge related to writing to build transformations and foster ruptures, resistance, and continuities in the struggle for the right to literacy, in and with the first segment of Basic Education. Specifically, our objectives are i) explore the pedagogical work aimed at literacy in a public preschool class; ii) dialogue with the teacher about what she thinks and what she does; iii) implement engaging and playful possibilities of literacy in Early Childhood Education; iv) encourage overcoming and educational practice carried out in a region of high social vulnerability. This research is based on the contributions of Cultural-Historical Theory, is empirical in nature, and is anchored in the methodological principles of HistoricalDialectical Materialism. It includes a doctoral researcher, a public preschool teacher, from the periphery of the interior of the state of São Paulo, and their 4 and 5-year-old students. During the second half of 2019 and the first half of 2020, the empirical material was produced by: i) weekly video-filmed observations of activities aimed at literacy, ii) analysis of materials produced and used by the teacher and, iii) dialogues between the teacher and researcher, in person and via WhatsApp. From the analyzes ordered by chronological axis, on the empirical situations constituted in the individuality of the class, we identified the relevance of policies aimed at literacy, valuing and providing opportunities for mutual listening, between the teacher and the researcher, as well as other educators and/or professionals , from inside the school and outside it, continuously complementing the teaching perspective and strengthening the confrontation of tensions that permanently emerge in the educational practice. We realize that in addition to the discursive moments covered by narratives, literature, playfulness and appreciation of imaginative activity, they move practices aimed at the literacy process, and involve the integrality of the dramatic constitution of the child's psyche and in-service teacher training, these need to reach family members (parents and guardians of students) and the entire school community, in order to explain and educate society on the importance of each pedagogical choice for children's literacy. We found that, in neighborhoods where the presence of writing is quite reduced, to achieve fairer and more egalitarian sociability projects, in addition to expanding access to literacy practices guided by more complex forms of language, from the first segment of Basic Education, it is also necessary to deepen the look at the conditions of permanence and continuity of these and the meanings produced by the subjects who relate to each other in it. And, we end by showing that, for the literacy process to be effective in its entirety, in developmental ways, the discursive moments constituted within each educational practice need to go beyond the limits of the teaching staff and the school walls and also emerge at the heart of the production of scientific knowledge in broader collective dimensions, such as the centralized management of public education systems and the research practice of universities.