Associação entre fenótipos fisiopatológicos e resposta ao tratamento da apneia obstrutiva do sono com dispositivo de avanço mandibular

Abstract

A apneia obstrutiva do sono é uma condição clínica comum que ocorre pelo estreitamento da faringe durante o sono. Diversos estudos tornaram popular o uso dos dispositivos intraorais de avanço mandibular no tratamento da síndrome da apneia obstrutiva do sono. A relação entre os resultados do tratamento e características fenotípicas individuais constitui um aspecto crítico na decisão clínica, visto que a literatura ainda é escassa nesse domínio. O objetivo deste trabalho foi avaliar a relação entre fenótipos fisiopatológicos de pacientes com síndrome da apneia obstrutiva do sono, baseados em polissonografia, morfoantropometria e cefalometria, e a resposta ao tratamento com dispositivos de avanço mandibular. Foi realizado um estudo comparativo tipo antes e depois a partir dos dados de prontuários dos pacientes. Participaram do estudo 31 pacientes com diagnóstico de síndrome da apneia obstrutiva do sono a partir da polissonografia tipo I indicados para tratamento com dispositivos de avanço mandibular, atendidos no serviço de Otorrinolaringologia do Hospital PUC-Campinas no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. Os participantes foram classificados em fenótipos da síndrome da apneia obstrutiva do sono (componente anatômico, baixo limiar para despertar, instabilidade do controle ventilatório e disfunção dos músculos da via aérea superior) com base nas características fisiopatológicas polissonográficas. A variável ‘desfecho’ refere-se à resposta ao tratamento da apneia obstrutiva do sono com os dispositivos de avanço mandibular, avaliada a partir da variação do índice de apneia e hipopneia pré e pós tratamento. Os participantes foram classificados em duas categorias: respondedores e não-respondedores. Além disso, foram coletados dados antropométricos e cefalométricos diretamente dos prontuários e exames complementares ao tratamento. Para comparar os resultados pré e pós-tratamento foi utilizado o teste de Wilcoxon e para a comparação de variáveis entre respondedores e não-respondedores foi utilizado o teste de Mann-Whitney. Para identificar as associações significativas foi realizado o teste de Qui-quadrado ou teste Exato de Fisher, os quais apontaram os fenótipos ‘anatômico’ e ‘resposta muscular’ como estatisticamente significantes. Além disso, associação entre os fenótipos fisiopatológicos e a resposta ao tratamento foi avaliada pela análise de regressão linear múltipla a partir de dois modelos, sendo o valor do índice de apneia e hipopneia pós-tratamento a variável dependente. As variáveis independentes utilizadas no modelo I foram índice de apneia e hipopneia, tempo de saturação de oxiemoglobina abaixo de 90% e índice de massa corporal pré tratamento. Já no modelo II, além do índice de apneia e hipopneia pré-tratamento, foram incluídos todos os fenótipos identificados. Os resultados sugerem que o fenótipo ‘resposta muscular’, assim como a medida das distâncias inter molares e pré-molares podem ser úteis na decisão clínica para esse tratamento. O valor do índice de apneia e hipopneia em sono REM tornou-se um dos dados mais relevantes na indicação deste tratamento na apneia obstrutiva do sono. Os resultados obtidos neste estudo constituem indicadores preliminares de que fenótipos polissonográficos podem ser úteis na indicação dos dispositivos de avanço mandibular para pacientes com síndrome da apneia obstrutiva do sono.

Obstructive sleep apnea is a common clinical condition that occurs due to the narrowing of the pharynx during sleep. Several studies have popularized the use of intraoral mandibular advancement devices in the treatment of obstructive sleep apnea syndrome. The relationship between treatment results and individual phenotypic characteristics is a critical aspect in the clinical decision, since the literature is still scarce in this domain. The objective of this study was to evaluate the relationship between pathophysiological phenotypes of patients with obstructive sleep apnea syndrome, based on polysomnography, morphoanthropometry and cephalometry, and the response to treatment with mandibular advancement devices. A before-and-after comparative study was carried out based on data from the patients' medical records. The study included 31 patients diagnosed with obstructive sleep apnea syndrome based on type I polysomnography, indicated for treatment with mandibular advancement devices, treated at the Otorhinolaryngology service at Hospital PUC Campinas from January 2018 to December 2022. Participants were classified according to phenotypes of obstructive sleep apnea syndrome (anatomical component, low threshold for awakening, instability of ventilatory control and dysfunction of the upper airway muscles). based on polysomnographic pathophysiological characteristics. The 'outcome' variable refers to the response to the treatment of obstructive sleep apnea with mandibular advancement devices, evaluated from the variation in the pre- and post-treatment apnea and hypopnea index. Participants were classified into two categories: responders and non-responders. In addition, anthropometric and cephalometric data were collected directly from the medical records and complementary tests to the treatment. To compare pre- and post treatment results, the Wilcoxon test was used, and to compare variables between responders and non-responders, the Mann-Whitney test was used. To identify significant associations, the chi-square test or Fisher's exact test were performed, which indicated the 'anatomical' and 'muscle response' phenotypes as statistically significant. In addition, the association between pathophysiological phenotypes and response to treatment was evaluated using multiple linear regression analysis from two models, with the value of the post-treatment apnea and hypopnea index being the dependent variable. The independent variables used in model I were apnea and hypopnea index, oxyhemoglobin saturation time below 90% and pre-treatment body mass index. In model II, in addition to the pre-treatment apnea and hypopnea index, all identified phenotypes were included. The results suggest that the 'muscle response' phenotype, as well as the measurement of intermolar and premolar distances, may be useful in the clinical decision for this treatment. The value of the apnea-hypopnea index in REM sleep has become one of the most relevant data for indicating this treatment in obstructive sleep apnea. The results obtained in this study constitute preliminary indicators that polysomnographic phenotypes can be useful in the indication of mandibular advancement devices for patients with obstructive sleep apnea syndrome.