Análise ultrassonográfica a beira leito dos pacientes com trauma torácico atendidos no hospital da PUC-Campinas: um estudo retrospectivo

Abstract

Introdução: O trauma é considerado uma doença, sendo a terceira causa de mortalidade no mundo. O traumatismo torácico, dentre todas as formas de trauma, é uma causa frequente de morbidade e mortalidade em vítimas atendidas no pré hospitalar e hospitalar, sendo seu diagnóstico precoce um indicador preciso de melhoria do prognóstico. A avaliação inicial, associada a exames complementares, muda o prognóstico do paciente se for realizada de maneira rápida e completa. Entre os exames complementares que auxiliam na avaliação inicial, a ultrassonografia à beira do leito, ou point-of-care ultrasound, tem sido adotada com frequência, em contraste aos exames comuns como radiografias e tomografias computadorizadas. Objetivo: Avaliar o uso da ultrassonografia à beira do leito como instrumento na condução e no diagnóstico de pacientes vítimas de traumatismo torácico atendidos no Hospital da PUC-Campinas, comparando com exames anteriormente utilizados. Métodos: Análise retrospectiva longitudinal dos prontuários de 476 pacientes com hipótese de trauma atendidos no Hospital da PUC-Campinas, entre os anos de 2016 a janeiro de 2021, identificando os que apresentavam traumatismo torácico, correlacionando os resultados do exame ultrassonográfico à beira do leito com a evolução dos pacientes e os critérios de tomada e mudança de decisão e evolução de morbimortalidade associada comparando o uso dos exames de diagnósticos comumente utilizados em relação à ultrassonografia, perfil demográfico, epidemiológico e social, critérios de admissão e de encaminhamento, estabilidade na avaliação primária, resultado do exame à beira do leito ou FAST, resultados de exames complementares (radiografia, tomografia ou lavado peritoneal diagnóstico), conduta no atendimento inicial e no tratamento definitivo e evolução dos pacientes. Resultados: Após avaliação dos prontuários de 202 pacientes vítimas de traumatismo torácico, predominantemente homens (77,9%) e brancos (67,3%), a maioria proveniente do SUS (74,2%), observou-se um encaminhamento majoritário via atendimento pré-hospitalar (69,0%). A idade média dos pacientes era de 43,6 anos, com uma média de duração de internação de 8,5 dias e Revised Trauma Score médio de 6,29, refletindo a heterogeneidade dos casos. Acidentes de trânsito (42,3%) e violência (31,8%) foram as principais causas de trauma, com destaque para acidentes de motocicleta (19,2%). Lesões torácicas, como fraturas costais, foram frequentes (75,0%), e hemotórax e pneumotórax predominaram. A ocorrência de múltiplos traumas associados foi comum (53,5%). A reabordagem torácica ocorreu em 21,1% dos casos e 9,2% dos pacientes faleceram, principalmente devido à falência de órgãos. Exames de ultrassonografia e tomografia foram amplamente utilizados (75,6% e 77,7%, respectivamente), com associação significativa positiva pela gravidade dos pacientes. O E-FAST, comparado ao exame físico e à radiografia de tórax, evidenciou maior ocorrência de pneumotórax e hemotórax, com aumento da sensibilidade associada à tomografia computadorizada de tórax, apresentando melhores custos e ausência de radiação ionizante do que os outros exames. O lavado peritoneal diagnóstico não mostrou diferença significativa no diagnóstico. Conclusão: O estudo apresentado evidenciou a importância da ultrassonografia estendida para o trauma como ferramenta de validação diagnóstica e de melhoria na tomada de decisão cirúrgica.

Introduction: Trauma is considered a Disease, being the third cause of mortality in the world. Thoracic trauma, among all forms of trauma, is a frequent cause of morbidity and mortality in victims treated in the pre-hospital and hospital periods, and its early diagnosis is an accurate indicator of improved prognosis. The initial evaluation associated with complementary tests changes the prognosis of the patient, if it is performed quickly and completely. Among the examinations, bedside ultrasound, or Point Of Care Ultrasound (POCUS), has been adopted frequently, in contrast to common examinations such as X-rays and CT scans. Objective: To evaluate the use of bedside ultrasonography as an instrument in the management and diagnosis of thoracic trauma patients treated at the Institution, comparing with the tests previously used. Methods: Longitudinal retrospective analysis of the medical records of 476 patients diagnosed with trauma treated at the Hospital da PUC-Campinas, between the years 2016 and January 2021, correlated the results of the bedside ultrasound examination (POCUS) with the evolution of the patients and the criteria for decision making and change and evolution of associated morbidity and mortality. Comparing the use of commonly used diagnostic tests in relation to ultrasound, demographic, epidemiological and social profile, admission and referral criteria, stability in the Primary evaluation, bedside or FAST examination result, results of complementary exams (RX, Tomography or Lavage), conduct in the initial care, conduct in the definitive treatment and evolution of the patients. Findings: The medical records of 202 patients’ victims of thoracic trauma, predominantly men (77.9%) and whites (67.3%), most of them from the SUS (74.2%), were evaluated, with a majority of referrals via pre-hospital care (69%). The mean age was 43.6 years, with a mean length of stay of 8.5 days and mean RTS of 6.29, reflecting the heterogeneity of the cases. Traffic accidents (42.3%) and violence (31.8%) were the main causes of trauma, especially motorcycle accidents (19.2%). Thoracic injuries, such as costal fractures, were frequent (75.0%), and hemothorax and pneumothorax predominated. Multiple associated traumas were common (53.5%). Thoracic reapproach occurred in 21.1%, and 9.2% of the patients died, mainly due to organ failure. Ultrasonography and tomography were widely used (75.6% and 77.7%, respectively), with a significant association with patient severity. The E-FAST, compared to physical examination and chest X-ray, showed a significantly higher occurrence of pneumothorax and hemothorax, with increased sensitivity associated with chest computed tomography, presenting better costs and absence of ionizing radiation than other tests. The Peritoneal Lavage Diagnosis showed no significant difference in diagnosis. Conclusion: The present study evidenced the importance of Extended Ultrasonography for Trauma (E-FAST) as a tool for diagnostic validation and improvement in surgical decision-making.