Encontrando a criança adotiva: um passeio pelo imaginário coletivo de professores à luz da psicanálise

Abstract

A presente investigação insere-se num conjunto de pesquisas psicanalíticas sobre o imaginário social, focalizando a problemática da adoção. Articula-se ao redor de trabalho de campo constituído por encontros individuais, com professores de ensino fundamental e médio, durante os quais o procedimento de desenhos-estórias com tema foi utilizado como mediador dialógico. Narrativas psicanalíticas destes encontros permitiram uma elaboração compreensiva das comunicações obtidas, a partir da qual são destacados campos inconscientes organizadores do imaginário: o abandono, a mentira, o estranho e a psicopatologia. O abandono insere-se numa rede que encontra, nas questões da entrega da criança para adoção e nas experiências de desamparo e rejeição, outros nós significativos. A mentira liga-se às condutas de ocultação da história de adoção e das verdades da família. O estranho aparece projetado na adoção como forma de debruçarse sobre o desconhecido, possivelmente em consonância com dimensões temidas de self. Por fim, o último campo aponta para o fenômeno da criação de teorias psicopatológicas, pelas quais fragilidades emocionais insuperáveis são atribuídas às crianças adotivas. Tais constatações fazem-nos questionar eticamente as práticas sociais atualmente prevalentes frente à criança adotiva.

The present investigation takes part in a group of psychoanalytical researches on the social imaginary, focusing on the problems regarding adoption. Articulation happens around fieldwork constituted by individual encounters, with teachers of elementary and high school education, during which the procedure of picture story with a topic was used as a dialogic mediator. Psychoanalytical narratives from these encounters allowed a comprehensive elaboration of the communications obtained, from which are distinguished unconscious fields organizers of the imaginary: abandonment, lies, the uncanny and the psychopathology. Abandonment is inserted in a net that finds, in the issues of delivery of the child for adoption and in the experiences of helplessness and rejection, other significant knots. Lies are connected to the conducts of hiding the story of the adoption and the family truths. The uncanny seems to be projected in the adoption as a form of leaning over the unknown, possibly in consonance to the dimensions feared of self. At last, the last campo points to the phenomenon of creation of psychopathological theories, through which insuperable emotional frailties are attributed to the adopted children. Such verifications make us question ethically the current social practices prevalent regarding the adopted child.