Narrativas infantis mediadas: a-propria-ação da memória de crianças sobre suas experiências na educação infantil

Abstract

Esta pesquisa parte da seguinte questão: as narrativas memorialísticas infantis podem ser afetadas por produções fílmicas? Desta questão, derivamos o objetivo geral: analisar se as narrativas memorialísticas de crianças sobre suas próprias experiências como alunos na Educação Infantil são afetadas (ou não) por produções fílmicas (Movie Maker) feitas por sua professora/pesquisadora, referentes a atividades da turma. Fundamentamo-nos no materialismo histórico-dialético - nos conceitos de experiência e narrativa (Benjamin), e memória (Vigotski). A metodologia compôs-se por entrevistas feitas em 2 encontros com 11 crianças, subdivididas em 2 grupos; nesses encontros, estimulamo-las a narrarem suas lembranças sobre o ano anterior na escola; em seguida, apresentamos os Movie Maker (seleção e agrupamento de fotos das crianças envolvidas em atividades pedagógicas, com fundo musical), e conversamos mais sobre suas memórias. Os encontros foram vídeo gravados e transcritos na íntegra. As análises indicam: (i) importantes diferenças nas narrativas produzidas com e sem o apoio do Movie Maker (de mais curtas indicativas e descritivas para narrativas mais longas, detalhadas, permeadas de emoções e interpretativas); (ii) riqueza de se reverem no grupo e em grupo, como contexto potente para (re)elaborações das memórias e das narrativas. A partir dos resultados, destacamos a importância de renovarmos formas e usos de registro das experiências pedagógicas, abrindo espaços consistentes para a participação dos alunos, dada a relevância de ouvir a voz dos “vencidos” (na nomenclatura benjaminiana); ressaltamos que às crianças - na posição de sujeito-aluno - poucas vezes é concedido lugar de protagonistas, com plenas condições de narrarem suas experiências e, a partir disso, transformarem-se e (re)significarem-se (n)aquilo que foi vivido.

This research is based on the following question: can children’s memorialistic narratives be affected by movie productions? From this question, we derive the general objective: to analyze if the memorialistic narratives of children about their own experiences as students in early childhood education are affected (or not) by movie productions made (with Movie Maker software) by their teacher/researcher, regarding class activities. The present work is based on historical-dialectical materialism – on the concepts of experience and narrative (Benjamin), and memory (Vygotsky). The methodology was composed by interviews from 2 meetings with 11 children, subdivided into 2 groups; in these meetings, we encouraged them to recount their memories about the previous year at school; then, we presented the produced movies (selection and grouping of photos of the children involved in educational activities, with background music), and we talked more about their memories. The meetings were recorded and transcribed in full. The analyses show: (i) significant differences in the narratives produced with and without the support of Movie Maker (from shorter indicative and descriptive narratives to longer, more detailed, permeated of emotions and interpretative narratives); (ii) the richness to review themselves in the group and in group, as a powerful context for (re)elaborations of memories and narratives. From the results, we highlight the importance of renewing forms and uses of recordings of pedagogical experiences, opening up consistent spaces for students’ participation, given the importance of listening to the voice of the "losers" (in Benjaminian terms); We emphasize that to the children - in the position of subject-student – it is rarely given a place of protagonists, with full conditions to narrate their experiences and, from there, to transform themselves and (re)signify what was experienced.