Superior interesse da criança e destituição do poder familiar: perspectiva de psicólogas e psicólogos da defensoria pública do estado de São Paulo

Abstract

O presente trabalho se inicia com a tese de que a adoção pressiona a destituição do poder familiar, utilizando-se do Superior Interesse da Criança (SInC) para cindir as famílias. A pesquisa foi construída a partir do lugar de assistente técnica jurídica (ATJ) na Defensoria, com a compreensão de que, ainda que tenhamos avançado tecnicamente com a introdução do conceito de SInC, é parte integrante dele a cisão do binômio criança/família. O estudo teve como objetivo observar como as psicólogas da Defensoria compreendem o SInC – que é o objeto da pesquisa – e como entendem suas atuações enquanto ATJ em seu lugar político. O método se fundamentou na busca pelas complexas determinações que participam do fenômeno do surgimento e uso do conceito de SInC, além de ser uma pesquisa ação-participação. No estudo da história da infância, levantamentos bibliográficos apontaram para como as crianças foram compreendidas, especialmente por civilizações europeias, como objetos das pessoas adultas. O conceito de SInC buscou revisitar tal compreensão a partir de uma mudança histórica no foco do interesse de pessoas adultas pela criança, que passou a ser o de reconhecimento de um interesse da criança – dando à criança um lugar de participação ativa na sociedade. Os dados da pesquisa, entretanto, dão indícios de que o conceito é ambíguo e, por isso, falha em sua missão. Crianças continuam a ser tratadas como objetos de intervenção do Estado, mais especialmente as crianças pobres. Neste sentido, o SInC pode ser utilizado como instrumento de separação arbitrária de crianças pobres de suas famílias.

The present work starts with the thesis that the Adoption pressures the Removal of the Familiar Power, using the Best Interest of the Child (BInC) to split families. The research was built from the position of Juridical Technical Assistant (JTA) in Public Defender, with the understanding that, although we have advanced technically with the introduction of the concept of BInC, it is an integral part of it the split of the binomial child/family. The study aimed to observe how the Psychologist in Public Defender understands the BInC – which is the object of the research – and how she understands her role as a JTA in her political place. The method was based on the search for the complex determinations that participate in the phenomenon of the emergence and use of the concept of BInC, besides being an Action-Participation Research. In the study of the history of childhood, bibliographical surveys pointed to how children were understood, especially by European civilizations, as objects of adults. The concept of BInC sought to revisit such understanding from a historical shift in the focus of adult interest at the child, which has become an understanding of recognizing the interest of the child – giving the child a place of active participation in society. The research data, however, give evidence that the concept is ambiguous and therefore fails in its mission. Children continue to be treated as objects of state intervention, especially poor children. In this sense, the BInC can be used as an instrument of arbitrary separation of poor children from their families.

Le présent travail commence par la thèse selon laquelle l'adoption fait pression sur la Destitution du Pouvoir Familial, en utilisant l'Intérêt Supérieur de l'Enfant (InSE) pour scinder les familles. La recherche a été construite à partir du poste d’Assistante Technique Juridique (ATJ) au Bureau du Défenseur Public, étant entendu que, bien que nous ayons progressé sur le plan technique avec l’introduction du concept de InSE, la séparation du binôme enfant / famille en fait partie intégrante. L'étude visait à observer comment le Psychologue en Bureau du Défenseur Public comprenait le InSE – qui est l'objet de la recherche – et comment il comprenait son rôle d'ATJ à sa place politique. La méthode était basée sur la recherche des déterminations complexes qui participent au phénomène de l'émergence et de l'utilisation du concept de InSE, en plus d'être une recherche d'action-participation. Dans l’étude de l’histoire de l’enfance, des études bibliographiques ont montré comment les enfants étaient compris, en particulier par les civilisations européennes, comme des objets d’adultes. Le concept de InSE visait à revisiter cette compréhension à partir d'un changement historique dans la focalisation de l'intérêt des adultes sur l'enfant, qui est devenu celui de la reconnaissance de l'intérêt de l'enfant – en donnant à l'enfant un lieu de participation active dans la société. Les données de recherche montrent toutefois que le concept est ambigu et qu’il échoue donc dans sa mission. Les enfants continuent d'être traités comme des objets d'intervention de l'État, en particulier les enfants pauvres. En ce sens, le InSE peut être utilisé comme un instrument de séparation arbitraire des enfants pauvres de leurs familles.