A Autolesão não suicida em idade escolar: uma agressão que conforta?

Abstract

A autolesão é um fenômeno que vem se fazendo cada vez mais presente no cotidiano escolar dos estudantes. Além de ser um fator de risco para o desenvolvimento, esse tipo de prática carrega um estigma patologizante e, a despeito do aumento do número de casos, ainda é visto com preconceito e subestima. A presente dissertação é uma pesquisa qualitativa de caráter documental e seu tema surge a partir da demanda observada em uma escola pública de Campinas – SP, na qual percebeu-se um grande aumento no número de casos de autolesão entre adolescentes. As informações obtidas em campo foram documentados em diários de campo e posteriormente utilizadas para a análise na busca de atingir o objetivo da pesquisa: Compreender o fenômeno da Autolesão, a partir de uma visão crítica da Psicologia, validando a perspectiva do sujeito que se autolesiona. Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em oito bancos de dados, tendo como foco produções científicas que compartilhassem convergências com a abordagem dessa pesquisa. O resultado da revisão da literatura demonstra a necessidade de pesquisas que se pautem em uma visão crítica do fenômeno e a carência de produções nacionais, que debatam o assunto levando em consideração a realidade concreta do indivíduo. A base teórica compreende três eixos que se relacionam entre si e irão fornecer os subsídios teóricos para a discussão. São eles: A Autolesão; O Desenvolvimento Humano e a Psicologia Histórico-cultural; e A Psicologia na escola acompanhando o processo de desenvolvimento. Seguindo o método da pesquisa açãoparticipação, a profissional-pesquisadora inseriu-se no campo com o objetivo de caracterizar o fenômeno da autolesão no cotidiano escolar e compreender o seu impacto no desenvolvimento dos estudantes, avaliando indicadores de risco e proteção para a incidência do fenômeno. O presente trabalho se utilizou do Materialismo Histórico-dialético e da Epistemologia Qualitativa para a organização e análise dos dados. Os resultados demonstraram que, a partir da perspectiva do sujeito, foi possível indicar fatores de risco e proteção para a ALNS. Fatores como conflitos familiares, vivências de violência, a falta de uma rede de apoio, padrões de beleza que afetam diretamente na autopercepção, a pandemia do Coronavírus 19 e suas implicações foram alguns dos fatores de risco relacionados a comportamentos lesivos não suicidas. O fortalecimento coletivo, a disponibilidade de espaços de escuta e acolhimento que respeitem a perspectiva do sujeito, a busca por espaços de discussão que promovam a desideologização e a presença da profissional de psicologia inserida no cotidiano escolar foram alguns dos fatores de proteção para a incidência da ALNS em estudantes do Fundamental II.

Self-injury is a phenomenon that is becoming increasingly present in the student’s school routine. In addition to being a risk factor for development, this type of practice carries a pathological stigma, and, despite the increase occurrences, it is still seen through a prejudice and underestimate perspective. The present dissertation is a qualitative and documentary research, and its theme arises from the demand observed in a public school in Campinas - SP, in which it was noticed a great increase in the number of cases of self-injury among adolescents. The information was documented in field diaries and later used for analysis to reach the research objective: to understand the phenomenon of Self-Injury from a critical perspective of Psychology, validating the perspective of the self-injuring subject. The result of the literature review demonstrates the need for scientific productions that are based on a critical view of the phenomenon and the lack of national studies that debate the reality of the individual that engage in self injury. The theoretical basis comprises three axes that are related to each other and will provide theoretical support for the discussion. They are: Self-Injury; Human Development and Historical Cultural Psychology; and Psychology at school following the development process. Guided by the action- participatory research method, the professional psychologist entered the field to characterize the phenomenon of self-injury in school life and understand the impact of self-injury on students' development by assessing risk and protection indicators for the incidence of the phenomenon. The present work used Historical-dialectical Materialism and Qualitative Epistemology for data analysis. The results showed that, from the subject's perspective, it was possible to indicate protective and risk factors for ALNS. Factors such as family conflicts, experiencing situations of violence, the lack of a support network, standards of beauty that directly affect self-perception and the Coronavirus 19 pandemic and its implications, were some of the risk factors related to non-suicidal harmful behaviors. The collective strengthening, the availability of spaces for listening that respect the perspective of the subject, the search for spaces for discussion that promote de-ideologization and the insertion of the psychology professional in daily school life were some of the protective factors against the incidence of ALNS in Elementary II students.