Mulher, mãe e louca: experiência emocional de usuárias do caps sobre o adoecimento mental
Author
Advisor
Granato, Tania Mara MarquesDate
20/06/2024Content Type
Tese de doutoradoPostgraduate Program
PsicologiaAccess rights
Acesso abertoMetadata
Show full item recordAbstract
O presente trabalho teve como objetivo compreender a experiência emocional de mulheresmães em tratamento em um Centro de Atenção Psicossocial III (CAPS III) sobre o processo de adoecimento mental, na perspectiva das próprias participantes. Ao considerar que a sociedade contemporânea é estruturalmente sexista, sendo as mulheres fortemente oprimidas, ao mesmo tempo em que também é heterogênea e complexa, o sexismo conforma-se diferentemente nos múltiplos contextos sociais. Interessamo-nos em refletir sobre o sofrimento feminino na intersecção com a saúde mental, devido ao nosso sentimento de urgência de uma perspectiva crítica e interseccional para pensar a saúde mental das mulheres no Brasil. O presente estudo organiza-se como pesquisa qualitativa com método psicanalítico, realizado a partir de três entrevistas transicionais individuais com cinco mulheres usuárias de um CAPS III, que foram indicadas por profissionais da equipe que as acompanha. As entrevistas transicionais, orientadas pelo conceito de manejo winnicottiano, foram estruturadas ao redor de uma pergunta norteadora – “O que você imagina que aconteceu para você estar aqui no CAPS?”, a partir da qual as participantes puderam falar livremente sobre suas histórias, e pelo uso do recurso mediador do Procedimento de Desenho-Estória com Tema, adaptado de forma a priorizar o cuidado ético de população vulnerável. O material de pesquisa constitui-se por dois tipos de produções narrativas: (a) produções imaginativas das entrevistadas e (b) Narrativas Transferenciais, nas quais a pesquisadora já apresenta uma elaboração interpretativa do que viveu nos encontros com as participantes. Em trabalho conjunto com o grupo de pesquisa, o material foi psicanaliticamente interpretado em termos de dois campos de sentido afetivo-emocional e um subcampo, que intitulamos “Há males que vem para o mal”, e seu subcampo “Sobrevivendo em solo árido”, e “E eu não sou uma mulher?”. O quadro geral sugere que essas mulheres foram repetidamente traumatizadas ao longo de suas vidas, sendo o adoecimento mental um dos traumas vivenciados. Pelo fato de que sua história de adoecimento se insere no campo da maternidade e conjugalidade no contexto de uma sociedade patriarcal, sentem-se destituídas do lugar de mulher por não atenderem às expectativas sociais em relação ao cuidado. A despeito do ideal da maternidade compartilhado, desnudam que em nosso país nem todas as maternidades são bem-vistas, embora diretamente associadas à condição de precariedade social. Concluindo, ser mulher-mãe, periférica, negra, em tratamento para saúde mental e vítima de violência no Brasil configura-se como feixe de intersecções no qual múltiplas condições de opressão operam na produção de sofrimentos, dado o seu potencial traumático desumanizador.
This study aimed at understanding the emotional experience of women-mothers in treatment in a Psychosocial Attention Center III (CAPS III) about the process of mental illness through the perspective of the participants themselves. By considering that the contemporary society is structurally sexist, being women strongly oppressed, while also being heterogeneous and complex, sexism conforms itself differently in multiple social contexts. We are interested in reflecting on female suffering in the intersection with mental health due to the urgency of a critical and intersectional perspective to think about women’s mental health in Brazil. This study organizes itself as qualitative research with psychoanalytic method, developed from three individual transitional interviews with five women users of one CAPS III, who were indicated by professionals of the team that monitors them. The transitional interviews, guided by the Winnicottian concept of management, were structured around one main question – “What do you think happened to you for you to be here in CAPS?”, from which the participants were able to speak freely about their stories, and by the use of the mediator resource Thematic StoryDrawing Procedure, adapted as a way of prioritizing the ethical care of vulnerable population. The research material is constituted by two types of narrative productions: (a) the interviewees’ imaginative productions and (b) Transferential narratives, in which the researcher already presents an interpretative elaboration of what was lived in the meetings with the participants. In a collaborative action with the research group, the material was psychoanalytically interpretated in terms of two emotional-affective meaning fields and one subfield, which we entitled “There are evils that come for bad”, and its subfield “Surviving on dry soil”, and “Ain’t I a woman?”. The general framework suggests that these women were repeatedly traumatized during their lives, being mental illness one of the lived traumas. Given that their history of illness is inserted in the field of motherhood and conjugality in the context of a patriarchal society, they feel deprived of their womanhood for not meeting social expectations regarding care. Apart from the ideal of shared motherhood, they expose that in our country not all motherhoods are well-seen despite being directly associated with the condition of social precarity. All in all, being a peripheral, black, woman-mother, in treatment for mental health, and victim of violence in Brazil configures itself as a ray of intersections in which multiple conditions of oppression operate in the production of sufferings given its traumatizing and dehumanizing potential.
Keywords
MulheresMaternidade
Serviços de saúde mental
Psicanálise-metodologia
Psicologia feminista
Pesquisa qualitativa