Risco psicossocial familiar e coping da hospitalização em crianças e adolescentes: avaliação e intervenção

Abstract

A hospitalização de crianças e adolescentes pode acarretar prejuízos no desenvolvimento emocional, social, cognitivo e físico. Compreender como crianças/adolescentes utilizam os recursos disponíveis e lidam com a hospitalização, incluindo o diagnóstico e o tratamento, auxilia na prevenção de possíveis danos à saúde e ao desenvolvimento, subsidiando um melhor manejo desse processo. Esta pesquisa propõe uma avaliação e intervenção no coping do adoecimento, hospitalização e tratamento, também analisando o risco psicossocial familiar de crianças e adolescentes. Está organizada em dois estudos. O Estudo 1 verificou as evidências de validade de uma escala de Coping da Hospitalização, Adoecimento e Tratamento (COPHAT), elaborada em duas versões: para crianças e adolescentes internados (COPHAT-CA) e para os pais/responsáveis (COPHAT-P) e descrever e analisar algumas variáveis relacionadas ao processo de estresse-coping (enfrentamento) da hospitalização de crianças e adolescentes. O Estudo 2 propõe uma avaliação e intervenção no coping do adoecimento, hospitalização e tratamento. No Estudo 1, 197 crianças/adolescentes, com idade entre 6-14 anos, responderam o COPHAT-CA e seus respectivos pais/responsáveis responderam o COPHAT-P e o Psychosocial Assessment Tool 2.0 (PAT 2.0), em dois hospitais universitários. A Análise Fatorial Exploratória indicou uma solução de 32 itens, organizados em quatro fatores para a COPHAT-CA: Fator 1- Compreensão da Doença; Fator 2- Internação; Fator 3- Procedimentos e Efeitos Colaterais do tratamento; Fator 4- Expectativa de Retorno à Escola, todos com bom índice de confiabilidade (α ≥ 0,70), com exceção do Fator 1. Foi encontrada uma correlação positiva entre a COPHAT-CA e COPHAT-P (ρ = 0,191, p = 0,01), entre COPHAT-CA e PAT 2.0 (ρ = 0179; p = 0,05) e entre COPHAT-P e PAT 2.0 (ρ = 0,248; p = 0,01). No Estudo 2, participaram 26 crianças e adolescentes, entre 6-14 anos de idade (13 meninos), hospitalizados em um hospital universitário, e seus responsáveis. Foram divididos em Grupo de Intervenção (GI) (n = 16), submetido individualmente ao Programa de Promoção do Coping da Hospitalização (PROCOPE-H), especialmente elaborado, com uma média de 5 sessões (DP = 3,46), e Grupo Controle (GC) (n = 10), submetido às atividades lúdicas de rotina. No pré-teste, os participantes responderam o COPHAT-CA, o Instrumento de Avaliação do Brincar no Hospital adaptado (ABHa) e a Escala de Coping da Hospitalização (COPE-H). Os responsáveis responderam a Ficha de Identificação, o PAT 2.0 e o COPHAT-P. Cada participante e seu cuidador responderam um Inventário de Avaliação e Satisfação do Usuário (IASU) após a intervenção. GI apresentou diferenças significativas entre o pré-teste e o pós-teste, no COPHAT-CA. Entretanto, não houve diferenças significativas entre GI e GC, no pré e no pós-teste. Houve ganho clinicamente significativo para 11 crianças/adolescentes do GI (68,75%), que também apresentaram uma regulação emocional mais adaptativa, com diferenças significativas no pós-teste, diminuindo o afeto negativo (raiva, tristeza e medo) e aumentando os relatos de alegria. GI e seus cuidadores avaliaram o PROCOPE-H de forma positiva. Em conclusão, COPHAT-CA demonstrou evidências de validade de conteúdo e analise fatorial satisfatória e PROCOPE-H pode ser considerado uma proposta de intervenção psicológica promissora, tendo sido bem avaliada pelos participantes.

Hospitalization of children and adolescents can lead to emotional, social, cognitive and physical development impairments. Achieving an understanding on how the coping process occurs may provide for better management of the whole process. This thesis aimed to evaluate and intervene in the coping with illness, hospitalization and treatment, and analyze family psychosocial risk of children and adolescents. The work is organized in two studies. Study 1 verified the validity evidences of the Coping Scale for Hospitalization, Ailment and Treatment (COPHAT), designed in two versions: for hospitalized children and adolescents (COPHAT-CA) and for parents/legal guardians (COPHAT-P). Study 2 proposed an evaluation and intervention in coping with illness, hospitalization and treatment. In Study 1, 197 children/adolescents, aged 6-14 years old, answered the COPHAT-CA, and their parents/legal guardians answered the COPHAT-P and the Psychosocial Assessment Tool 2.0 (PAT 2.0), in two university hospitals. Factorial Exploratory Analysis indicated a solution of 32 items, organized in four factors for COPHAT-CA: Factor 1 - Understanding the Disease; Factor 2 - Hospitalization; Factor 3 - Procedures and Side Effects of Treatment; Factor 4 – Expectations to Return to School, all with a good index of confidence (α ≥ 0.70), exception to Factor 1. A positive correlation was found between COPHAT-CA and COPHAT-P (ρ = .191, p = .01), and between COPHAT-CA and PAT 2.0 (ρ = .179, p = .05) and COPHAT-P and PAT 2.0 (ρ = .248, p = .01). Study 2 proposed an evaluation and intervention in the coping with illness, hospitalization and treatment. The participants were 26 children and adolescents, aged 6-14 years old (13 boys), hospitalized in a university hospital, and their caregivers They were divided into: Intervention Group (GI) (n = 16) individually submitted to a personalized play intervention program: the Promotion of Coping Hospitalization (PROCOPE-H), specially elaborated, with a mean of 5 sessions (SD = 3.46), and Control Group (n = 10), submitted to routine play activities offered by the hospital. In the pre-test, participants responded the COPHAT-CA, the Hospital Play Assessment Instrument adapted (ABHa) and the Hospitalization Coping Scale (COPE-H - Child version). Parents/legal guardians answered a sociodemographic protocol, the COPHAT-P, the Coping Hospitalization Scale (COPE-H - Caregiver version) and the PAT 2.0. The participant and their caregiver answered an Evaluation and Satisfaction Inventory after intervention. GI presented significant differences between pretest and post-test in COPHAT-C: However, there were no significant pre and posttest differences between GI and GC. There was a clinically significant gain for 11 children/adolescents (68.75%) of the GI, who also presented more adaptive emotional regulation, with significant differences in the post-test, reducing negative affect (anger, sadness and fear) and increasing reports of joy. GI and their caregivers evaluated PROCOPE-H positively. In conclusion, the COPHAT-CA instrument demonstrated evidence of content validity and satisfactory factorial analysis and PROCOPE-H was well accepted and evaluated by the participants.

L’étude 1 vise à vérifier la validité d’une échelle: coping face à l’hospitalisation, la maladie et le traitement (COPHAT), élaboré en deux versions: pour enfants et adolescents hospitalisés (COPHAT-CA) et leurs parents/tuteurs respectifs (COPHAT-P) et à décrire et analyser certaines variables liées au processus de stress-coping face à l'hospitalisation d'enfants et d'adolescents. L’étude 2 propose une évaluation et une intervention de coping face à l'hospitalisation, la maladie et le traitement. L'étude a été realisée dans deux hôpitaux, sur 197 questionnaires qui ont été appliqués à chaque population cible: enfants/adolescents âgés de 6 à 14 ans et leurs parents/tuteurs. L’analyse factorielle exploratoire indique une solution de 32 éléments sur quatre facteurs pour COPHAT-CA: Facteur 1 - Comprendre la maladie; Facteur 2 - Hospitalisation; Facteur 3 - Procédures et effets secondaires du traitement [SR1]; Facteur 4 - Attente de retour aux études, avec un bon indice de fiabilité (α ≥ 0,70), à l’exception du facteur 1. Une corrélation positive a été trouvée entre COPHAT-CA et COPHAT-P (ρ = 0,191, p = 0,01) et entre COPHAT-CA et PAT (ρ = 0,179, p = 0,05) et COPHAT-P et PAT (ρ =0,248, p = 0,01). L'étude 2 a été porté sur 26 enfants et adolescents âgés de 6 à 14 ans (dont 13 garçons), hospitalisés dans un hôpital universitaire et leurs tuteurs.Ils ont été divisés en: Groupe d'intervention (IG) (n = 16) soumis individuellement au Programme pour la Promotion du Coping de l'Hospitalisation (PROCOPE-H), avec une moyenne de 5 (DP = 3,46) et Groupe de Contrôle (CG) (n = 10), soumis aux activités ludiques de routine. Lors du pré-test, les participants ont répondu à COPHAT-CA, l’instrument d’évaluation du jeu à l’hôpital adapté (ABHa) et l'Échelle de Coping de l'Hospitalisation (COPE-H). Les tuteurs ont rempli le Formulaire d'Identification, l'Instrument d'Évaluation Psychosociale 2.0 (PAT 2.0) et COPHAT-P.Le participant et son tuteur ont rempli un Inventaire d'évaluation et de Satisfaction de l'utilisateur (IASU) après l'intervention. IG a présenté des differences significatives entre le pré-test et le post-test dans COPHAT-C: Cependant, il n'a pas été observé de différence significative pré et post test entre IG et GC. On a observé un gain cliniquement significatif pour 11 patients (68,75%) de l’IG qui ont demontré une régulation émotionnelle plus adaptative, avec des différences significatives dans le post-test, réduisant l'émotion négative (colère, tristesse et peur) et en augmentant les événements de joie.GI et leurs soignants ont évalué PROCOPE-H de manière positive. En conclusion,l’instrument COPHAT-CA a démontré des preuves de la validité du contenu et une analyse factorielle satisfaisante et PROCOPE-H peut être considéré comme un proposition d'intervention psychologique prometteuse, avec une bonne évaluation.