Sobrevivendo no inferno: a experiência de adolescentes e familiares em programa de liberdade assistida

Abstract

Considerando a hip ó tese de descompasso entre o cuidado que é proposto pela medida socioeducativa de liberdade assistida (MSE/ a adol escentes e suas condições concretas de vida marcadas pela pobreza e desigualdade social, este trabalho buscou compreender a experi ê ncia emocional de adolescentes e familiares com relaçã o à MSE/LA. Para isso, realizamos um estudo qualitativo psicanal í tico, segundo o enquadre de Entrevistas Transicionais indi viduais iniciadas por uma Narrativa Interativa ( elaborada para este estudo. Participaram seis adolescentes, al é m de quatro familiares/respons á veis por adolescentes atendidos na MSE/LA Ap ó s a apresent ação e preenchimento da NI, cada participante foi co nvidado para o di á logo a respeito de sua experi ê ncia pessoal com a medida socioeducativa. Os encontros foram individualmente registrados em Narrativas Transferenciais ( O material narrativo reunido (N I e NT) foi tomado para an á lise interpretativa em conjunto com o grupo de pesquisa, da qual resultaram o Campo de Sentidos afetivo emocionais So b revivendo no Inferno e dois subcampos “O Gr ito dos Silenciados” e “A medida... é como uma coluna que susten ta” Esses campos nos permitiram confirmar a hipótese inicial sobre a profundidade e extensão dos problemas que essas famílias enfrentam e a limitada capacidade da MSE/LA para fazer face a tantas lacunas de cuidado social. No entanto, identificamos na MSE/ LA a oferta de um cuidado psicol ógico alinhado às reais necessidades dos adolescentes, proporcionando uma parcela da sustentação necessária para o seu desenvolvimento emocional. Também pudemos refletir psicanaliticamente sobre diferentes sentidos para o at o infracional ao considerarmos o contexto de vulnerabilidade social em que se produz. Além disso identificamos a necessidade d e uma Psicologia que se oriente pela libertação das estruturas sociais de opressão e colonização d ialogando com as perspectivas antirracistas, a ntiproibicionistas e antimanicomiais e não como prática de reprodução d o assujeitamento de determinadas populações.

Considering the mismatch between the care that is proposed by the social educ ational measure of probation (MSE/ to teenagers and its actual living conditions colored by poverty and social inequality, this research sought to understand the emotional expe rience of teenagers and families with relation to MSE/LA. With this aim, a ps ychoanalytical qualitative study was undertaken, according to the framework of individual transitional interviews initiated by an Interactive Narrative ( created for this study Six teenagers, and four care takers participated. After the presentation an d filling out of the IN, each participant was invited to a dialogue about his or her personal experience with the social educational measure. The meetings were registered individu ally in Transferential Narratives ( The assembled narrative material (IN and TN) was collected for interpretative analysis from which resulted the following emotional affective fields of meaning: “Surviving in hell” and two subfields: “The scream of th e silenced” and “The measure…is like a column that supports”. These fields ha ve enabled us to confirm the initial hypothesis about the depth and extension of the problems faced by these families and the limited capacity of MSE/LA to deal with so many short comings in social care. However, we have identified in MSE/LA the offer of ps ychological care in line with the actual needs of teenagers, providing a part of the necessary support for their emotional development. We were also able to reflect upon different meanings for the infractional acts, when we considered the context of social precariousness in which they are produced. In addition, we have identified the need for a psychology that abides by the freedom from social structures of oppression and colonizat ion, building dialogue with antiracial, anti prohibitionist and non pathologi zing perspectives, instead of abiding by perspectives that reproduce the practice of opression of certain populations.