Efeito da mediação parental em comportamentos de risco na internet entre crianças e adolescentes: um estudo exploratório

Abstract

O uso infantil de dispositivos móveis aumentou drasticamente em muitos países na década passada, tornando-se objeto de estudos que envolvem desde seu uso saudável e necessário até o uso excessivo e a exposição da criança a comportamentos de risco e danos causados por esse problema. A mediação parental pode ser descrita como, qualquer estratégia utilizada pelos pais ou tutores para controlar, supervisionar ou compreender os conteúdos da mídia com intenção de garantir o uso seguro da rede. No Brasil alguns estudos apontam estilos parentais diferenciados em três categorias, a mediação ativa (realização de atividades junto com a criança), de uso seguro (incentivo e orientação do uso seguro) e a mediação restritiva (limitação e restrição de tempo e conteúdo no uso com ferramentas para isso), apontando os efeitos que estas causam na garantia da segurança e exposição das crianças diante do acesso a internet. O presente estudo teve como objetivo avaliar se há influência de tais mediações no uso excessivo da internet em crianças, bem como nos comportamentos de risco e danos que estas se expõem durante o uso deste recurso de comunicação. Para isso foi realizado um estudo exploratório com amostra de conveniência (não probabilística). Os dados foram coletados a partir dos instrumentos IAT (Internet Addiction Test), SAS-SV (Smartphone Addiction Scale – Short Version) e perguntas subjetivas. Participaram do estudo 451 crianças, com idade entre 9 e 16 anos, de uma escola pública de uma cidade do Estado de São Paulo. Foram avaliadas as características sociodemográficas da amostra e os padrões de uso da internet, sendo possível determinar tais características e padrões de acordo com o uso problemático da rede avaliado através dos instrumentos IAT e SAS-SV, dividindo a amostra em dependentes de internet SMA (Smartphone Addiction) e não dependentes nSMA (no smartphone addiction) de internet. Em um primeiro momento pode ser observado uma idade média de 12 anos da amostra, e não foi possível detectar diferenças significativas entre os fatores gênero, idade, série e período em que estudam. Entretanto as crianças e adolescentes do grupo avaliado como dependentes de internet apresentaram um padrão de uso e uma exposição a comportamentos de risco e dano significativamente maiores que os do grupo não dependentes. Outro dado encontrado neste estudo aponta as características sociodemográficas dos adolescentes que relataram comportamento ofensivo na internet, mostrando um padrão de uso superior aos que não relataram tais comportamentos. Além disso, ao avaliarmos os principais preditores prevendo o comportamento ofensivo, observou-se que o fato de já terem sofrido ofensas anteriores, aumentou em 20 vezes a chance dessas crianças e adolescentes serem ofensores. Em geral, os resultados encontrados nos dão uma visão ampla da dependência de internet e dos comportamentos de dano e risco na rede. No que diz respeito à mediação parental por sua vez não foi possível encontrar significância em relação a dependência de internet e aos comportamentos de risco e dano. Apontando uma limitação importante do trabalho, pois o mesmo foi avaliado através da percepção que as crianças e os adolescentes têm em relação à mediação parental durante o uso. Sugere-se que novos estudos voltados para a mediação sejam conduzidos, buscando evidências da mediação como fator de proteção do uso da rede e prevenção da dependência da internet.

The use of mobile devices by children has increased dramatically in many countries in the past decade, becoming the subject of studies ranging from healthy and necessary use to excessive use and exposure of children to risk behaviors and harm caused by this problem. Parental mediation can be described as any strategy used by parents or guardians to control, supervise, or understand media content to ensure the safe use of the network. In Brazil, some studies point to differentiated parental styles into three categories, active mediation (accomplishment of activities together with the child), safe use (incentive and orientation of the safe use), and restrictive mediation (limitation and restriction of time and content in use with tools for that), pointing the effects that these cause in the guarantee of the security and exposition of the children before the internet access. The present study aimed to evaluate whether such mediations influence the excessive use of the Internet by children and the risk and harmful behaviors they expose themselves to while using this communication resource. To this end, an exploratory study was carried out with a convenience sample (nonprobability). The data were collected from IAT (Internet Addiction Test), SAS-SV (Smartphone Addiction Scale - Short Version), and subjective questions. The study included 451 children, aged between 9 and 16 years old, from a public school in a city in the state of São Paulo. The sociodemographic characteristics of the sample and the patterns of internet use were evaluated, being possible to determine such characteristics and patterns according to the problematic use of the net evaluated through the IAT and SAS-SV instruments, dividing the sample into internet-dependent SMA (Smartphone Addiction) and non-dependent nSMA (no smartphone addiction) internet. At first, the average age of 12 years of the sample can be observed, and it was not possible to detect significant differences between the factors of gender, age, grade, and period in which they studied. However, the children and adolescents in the group evaluated as internet-dependent showed a pattern of use and exposure to risk and harm behaviors significantly higher than those in the non-dependent group. Another finding of this study points to the sociodemographic characteristics of the adolescents who reported offensive internet behavior, showing a higher use pattern than those who did not report such behaviors. Furthermore, when evaluating the main predictors predicting offensive behavior, it was observed that having already suffered previous offenses increased 20 times the chance of these children and adolescents being offenders. Overall, the results gave us a broad view of internet addiction and harmful and risky net behavior. Concerning parental mediation, it was impossible to find significance related to internet addiction and risk and harm behaviors. This is an important limitation of this study since it was evaluated through children and adolescents' perception concerning parental mediation during use. It is suggested that new studies focusing on mediation be conducted, seeking evidence of mediation as a protective factor of net use and prevention of internet addiction.