A experiência vivida por gestantes e profissionais da rede pública no programa de acompanhamento ao período pré-natal

Abstract

A Organização Mundial de Saúde destaca que a experiência das mulheres com o programa de acompanhamento no período pré-natal é fundamental para a transformação do cuidado e no desenvolvimento saudável das famílias e comunidades. Nesse sentido, compreender as experiências vividas por mulheres e profissionais da saúde no acompanhamento do programa do período pré-natal implica numa atenção às relações intersubjetivas que se desenvolvem entre eles. A pesquisa caracterizou-se como um estudo empírico de natureza qualitativa que objetivou compreender a experiência vivida por mulheres gestantes e por profissionais de saúde em relação ao programa de acompanhamento do período pré-natal disponibilizado pelo SUS numa Unidade Básica de Saúde de um município situado no estado de Mato Grosso. Epistemologicamente, inspirou-se nos conceitos da fenomenologia clássica desenvolvida pelo filósofo Edmund Husserl e por sua discípula Edith Stein, atualizados pelas contribuições contemporâneas da filósofa italiana Angela Ales Bello. Teoricamente, apoia-se nos princípios da Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida pelo psicólogo humanista norte-americano Carl Rogers. Os participantes foram 11 mulheres gestantes e 12 profissionais de diferentes especialidades em uma equipe multiprofissional da área da saúde pública. A pesquisadora realizou 6 encontros dialógicos presenciais nas dependências da Unidade Básica de Saúde, com três grupos de gestantes e três grupos de profissionais da saúde, com duração aproximada de 1 hora. Os encontros foram iniciados com uma questão norteadora: “gostaria que você compartilhasse comigo como tem sido a sua experiência no programa de acompanhamento do período pré-natal”. Após cada encontro, a pesquisadora escreveu uma narrativa compreensiva contendo suas impressões, sentimentos e ideias a partir da experiência comunicada pelos participantes. Na etapa seguinte, construíram-se duas narrativas sínteses contendo os elementos estruturantes do fenômeno, sendo uma sobre os encontros com os grupos de mulheres gestantes e outra sobre os encontros com os grupos de profissionais. A análise fenomenológica derivada das narrativas sínteses possibilitou interpretar a experiência vivida por gestantes e por profissionais da saúde, destacando-se os seguintes elementos estruturantes: 1) estabelecer interações que facilitem a manifestação das vivências emocionais das gestantes não faz parte da postura dos profissionais; 2) as relações intersubjetivas entre os profissionais da equipe constituem um escudo que os protegem das situações externas ameaçadoras; 3) desamparo e frustração são vivenciados pelos profissionais em função de um desencontro entre as propostas contidas nos documentos do SUS e as experiências cotidianas na UBS; 4) as vivências subjetivas das gestantes impactam no processo de adesão ao programa de acompanhamento durante o período pré-natal; 5) quando os profissionais de saúde assumem atitudes de consideração, reconhecimento das singularidades e compreensão empática, as gestantes sentem-se acolhidas e valorizadas como pessoas e isto facilita a emergência de experiências positivas durante a gestação; 6) os profissionais realizam procedimentos protocolares de natureza técnica como instrumentos no relacionamento com as gestantes, evitando um envolvimento afetivo com elas. Destaca-se a necessidade da presença de psicólogos na equipe de saúde para assegurar uma atenção aos aspectos emocionais vivenciados pelas gestantes e estimular o desenvolvimento de práticas interdisciplinares inovadoras na perspectiva de uma assistência humanizada e integral durante o processo de acompanhamento no período pré-natal.

The World Health Organization highlights that women's experience with the prenatal follow up program is fundamental for the transformation of care and the healthy development of families and communities. In this sense, understanding the experiences lived by women and health professionals in the follow-up of the prenatal program implies attention to the intersubjective relationships that develop between them.The research was characterized as an empirical qualitative study, aiming to understand the lived experience of pregnant women and healthcare professionals regarding the prenatal care program provided by the Unified Health System (SUS) in a Basic Health Unit in a municipality in the state of Mato Grosso. Epistemologically, the research was inspired by the concepts of classical phenomenology developed by philosopher Edmund Husserl and his disciple Edith Stein, updated by the contemporary contributions of Italian philosopher Angela Ales Bello. Theoretically, the research is based on the principles of the Person-Centered Approach developed by the American humanistic psychologist Carl Rogers. Participants included 11 pregnant women and 12 professionals from different specialties in a multidisciplinary public health team. The researcher conducted six in-person dialogical meetings at the Basic Health Unit, divided into three groups of pregnant women and three groups of healthcare professionals, each lasting approximately one hour. Each meeting began with a guiding question: "Would you like to share with me how your experience has been in the prenatal care program?" After each meeting, the researcher wrote a comprehensive narrative expressing her impressions, feelings, and ideas based on the experiences shared by the participants. In the next step, two synthesis narratives were constructed containing the structural elements of the phenomenon: one about the meetings with groups of pregnant women and another about the meetings with groups of professionals. The phenomenological analysis derived from these synthesis narratives allowed for interpreting the experience lived by pregnant women and healthcare professionals, highlighting structural elements such as the importance of establishing interactions that facilitate the expression of emotional experiences by pregnant women and the need for consideration, recognition of singularities, and empathetic understanding by healthcare professionals. The professionals perform protocol procedures of a technical nature as instruments in the relationship with the pregnant women, avoiding an affective involvement with them. The research emphasized the need for the presence of psychologists in the healthcare team to ensure attention to the emotional aspects experienced by pregnant women and to promote innovative interdisciplinary practices, aiming for humanized and comprehensive care during the prenatal period.

La Organización Mundial de la Salud destaca que la experiencia de las mujeres con el programa de seguimiento prenatal es fundamental para la transformación de la atención y el desarrollo saludable de las familias y comunidades. En este sentido, comprender las experiencias vividas por las mujeres y los profesionales de la salud en el seguimiento del programa prenatal implica prestar atención a las relaciones intersubjetivas que se desarrollan entre ellas.La investigación se caracterizó como un estudio empírico de naturaleza cualitativa que tuvo como objetivo comprender la experiencia vivida por mujeres embarazadas y profesionales de la salud en relación con el programa de seguimiento del período prenatal proporcionado por el Sistema Único de Salud (SUS) en una Unidad Básica de Salud en un municipio ubicado en el estado de Mato Grosso. Epistemológicamente, se inspiró en los conceptos de la fenomenología clásica desarrollada por el filósofo Edmund Husserl y su discípula Edith Stein, actualizados por las contribuciones contemporáneas de la filósofa italiana Angela Ales Bello. Teóricamente, se apoya en los principios de la Abordaje Centrado en la Persona, desarrollada por el psicólogo humanista estadounidense Carl Rogers. Los participantes fueron 11 mujeres embarazadas y 12 profesionales de diferentes especialidades en un equipo multiprofesional del área de la salud pública. La investigadora llevó a cabo 6 encuentros dialógicos presenciales en las dependencias de la Unidad Básica de Salud, con tres grupos de mujeres embarazadas y tres grupos de profesionales de la salud, con una duración aproximada de 1 hora. Los encuentros comenzaron con una pregunta orientadora: "¿Te gustaría compartir conmigo cómo ha sido tu experiencia en el programa de seguimiento del período prenatal?". Después de cada encuentro, la investigadora escribió una narrativa comprensiva que contenía sus impresiones, sentimientos e ideas a partir de la experiencia comunicada por los participantes. En la etapa siguiente, se construyeron dos narrativas síntesis que contenían los elementos estructurales del fenómeno, una sobre los encuentros con los grupos de mujeres embarazadas y otra sobre los encuentros con los grupos de profesionales. El análisis fenomenológico derivado de las narrativas síntesis permitió interpretar la experiencia vivida por las mujeres embarazadas y los profesionales de la salud, destacando los siguientes elementos estructurantes: 1) establecer interacciones que faciliten la manifestación de las vivencias emocionales de las mujeres embarazadas no forma parte de la postura de los profesionales; 2) las relaciones intersubjetivas entre los profesionales del equipo constituyen un escudo que los protege de las situaciones externas amenazadoras; 3) desamparo y frustración son vividos por los profesionales debido a un desencuentro entre las propuestas contenidas en los documentos del SUS y las experiencias cotidianas en la UBS; 4) las vivencias subjetivas de las mujeres embarazadas impactan en el proceso de adhesión al programa de seguimiento durante el período prenatal; 5) cuando los profesionales de la salud asumen actitudes de consideración, reconocimiento de las singularidades y comprensión empática, las mujeres embarazadas se sienten acogidas y valoradas como personas, lo que facilita la emergencia de experiencias positivas durante el embarazo; 6) Los profesionales realizan procedimientos protocolarios de carácter técnico como instrumentos en la relación con las gestantes, evitando una afectación afectiva con ellas. Se destaca la necesidad de la presencia de psicólogos en el equipo de salud para asegurar una atención a los aspectos emocionales vividos por las mujeres embarazadas y estimular el desarrollo de prácticas interdisciplinarias innovadoras en la perspectiva de una asistencia humanizada e integral durante el proceso de seguimiento en el período prenatal