“Nascida para servir”: experiência vivida por mulheres-mães que trabalham como babás
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Autor
Orientador
Granato, Tania Mara MarquesData de publicação
13/06/2024Tipo de conteúdo
Tese de doutoradoPrograma de Pós-Graduação
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Acesso abertoMetadados
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O presente estudo teve como objetivo compreender a experiência vivida por mulheres-mãesbabás em sua tarefa cotidiana de conjugar o trabalho do cuidado infantil nas esferas pessoal e profissional. Justifica-se como produção de conhecimento relevante, inserida em um conjunto de pesquisas atuais que abordam o tema da maternidade e do sofrimento feminino. Diante da inserção de mulheres de classe média e alta no mercado de trabalho, a delegação do cuidado de crianças às babás reedita uma das possibilidades de organização da demanda do cuidado no contexto brasileiro, marcado pela desigualdade social. Organiza-se como pesquisa qualitativa com método psicanalítico, realizada por meio de entrevistas individuais com doze babás, as quais foram mediadas pelo uso do recurso dialógico denominado “Narrativa Interativa Gráfica” (NIG). A partir deste recurso, buscamos conhecer as histórias de vida das participantes, considerando o imbricamento de opressões em torno de questões de gênero, raça e classe social, bem como as ressonâncias emocionais que o exercício do cuidado infantil como trabalho remunerado produz sobre a experiência de maternidade das babás e vice-versa. O material de pesquisa é composto pelas histórias produzidas pelas babás a partir da NIG, além das narrativas transferenciais elaboradas pela pesquisadora. Em um trabalho conjunto com o Grupo de Pesquisa, esse material narrativo foi interpretado em termos da produção de um campo de sentido-afetivo emocional, que intitulamos “Nascida para servir”, e seus dois subcampos, denominados “Infância e juventude perdidas” e “Eu cuido (como se fosse meu filho), tu cuidas, ele não cuida, nós (mulheres) cuidamos”. O quadro geral sugere que diante de uma experiência de vida marcada por privação de direitos, meninas, em sua maioria, negras e pobres, podem reproduzir na vida adulta a mesma trajetória da infância/adolescência no âmbito do cuidado, cumprindo o destino que lhes foi traçado como legado do gênero, da raça e da classe social. Além disso, deixa evidente a percepção de que não existe diferença entre o cuidado materno e o “cuidado profissional”, desde que ofertado por outra mulher, denotando a rigidez da divisão sexual do trabalho que faz do cuidado assunto afeito ao universo feminino e problema a ser resolvido entre mulheres.
This study aims at understanding the experience lived by women-mothers-nannies in their daily task of conjugating the work of childcare in the personal and professional spheres. It justifies itself as relevant production of knowledge, embedded in a set of current research that approaches the theme of motherhood and female suffering. Given the insertion of middle- and high-class women in the labor market, the delegation of childcare to nannies reedits one of the possibilities of the demand of care in the Brazilian scenario, which is marked by social inequality. This study is organized as qualitative research with psychoanalytical method, in which individual interviews with twelve nannies, mediated by the use of the dialogic resource called “Graphic Interactive Narrative” (GIN), were carried out. Based on this resource, we seek to know the participants’ life stories considering the intertwinement of oppressions around the issues of gender, race, and social class, as well as the emotional resonances that childcare as paid work produces about the nannies’ motherhood experiences and vice-versa. The research material is composed of the stories produced by the nannies from the GIN as well as the transferential narratives elaborated by the researcher. In a collaborative action with the Research Group, this narrative material was interpreted in terms of the production of an emotional meaning-affective field, which we entitled “Born to serve”, and two sub-fields, called “Childhood and lost youth” and “I take care (as if they were my child), you take care, he does not take care, we (women) take care”. The general framework suggests that, given a life experience marked by deprivation of rights, girls, mostly black and poor, can reproduce in their adult life, the same trajectory of their childhood/adolescence in the sphere of care, fulfilling the destiny that has been traced for them as a legacy of gender, race, and social class. Moreover, it makes it evident that there is no difference between the maternal care and the “professional care”, if offered by another woman, which denotes certain stiffness in the sexual division of labor that makes care a topic connected to the female universe and a problem to be solved among women.
Palavras-chave
MaternidadeTrabalho
Sofrimento social
Método psicanalítico
Psicologia
Motherhood
Work
Social suffering
Psychoanalytical method
Psychology