Itaipu e a urbanização da zona de fronteira do Iguaçu: cidade e conjuntos habitacionais da usina hidrelétrica

Abstract

Esta pesquisa realiza uma reflexão sobre os fenômenos urbanos e sócio-espaciais na fronteira do Iguaçu, onde se encontram as cidades formadas nos territórios da Argentina, Brasil e Paraguai. Para isso, utiliza o conceito de fronteira adotado pela geografia e o conceito de fenômeno urbano adotado pelo urbanista Bernardo Secchi. Para a investigação, delineamos a década de 1970 como o recorte temporal, período representado pela construção da Usina de Itaipu Binacional, que promoveu um plano global de urbanização para as cidades paraguaias e brasileiras, se baseado principalmente na construção de conjuntos habitacionais e na estruturação do sistema viário, articulando as malhas urbanas das cidades da zona de fronteira. A análise é realizada pontuando os aspectos políticos, econômicos e sociais que envolveram a construção da usina, bem como dos projetos urbanos e arquitetônicos implantados pela empresa que, por fim, contribuíram para os processos atuais de expansão urbana e interação entre estas cidades. Analisamos primeiramente as lógicas naturais que configuraram as relações urbanas ao longo do tempo, como vínculos comerciais e turísticos, mobilidade e estrutura urbana, imigração e processos de territorialização, trocas culturais e identitárias para, em seguida, refletir sobre os documentos e projetos da época da construção da usina que revelam os interesses dos governos militares do Brasil e do Paraguai. A análise dos projetos urbanos demonstra que o partido adotado foi concebido para o controle e a vigilância da população, além de organizar hierarquias sociais e culturais, ao mesmo tempo em que, para a classe militar, observam-se projetos urbanos orientados para a socialização, a valorização do espaço público e do meio ambiente. Finalmente, concluiu-se que as conseqüências imediatas conduziram à segregação, ao esgarçamento da malha urbana e ao inchaço das cidades, culminando em conflitos sociais e identitários.

This research makes a consideration on urban and socio-spatial phenomena in the Iguassu border, where there are the cities formed in Argentine, Brazilian and Paraguayan territories. In this regard, it uses the border concept adopted by geography and the urban phenomenon adopted by urban planner Bernardo Secchi. For this investigation, we highlight the 70s as the time frame, period represented by the construction of Itaipu Binacional Power Plant, which promoted a global plan for housing, structuring the road system and articulating the urban grid plan concerning Brazilian and Paraguayan cities. This analysis has been carried out pointing political, economical and social aspects which involved the construction of the dam, as well as urban and architectural projects deployed by the company which eventually contributed to the current processes of urban expansion and interaction between these cities. First of all, we analyzed the natural logics which set up the urban relations over time such as commercial and touristic links, mobility and urban structure, immigration and territorialization processes, cultural and identity changes, for then reflecting on documents and projects dated of the construction of the dam, which reveal the interest of both Brazilian and Paraguayan military governments. The analysis of the urban projects shows that the adopted party was conceived to the population control and surveillance, besides of organizing socio-cultural hierarchies, while that, to the military class, urban projects were observed the same oriented for socialization, enhancement of public space and environment. Finally, it was concluded that the immediate consequences led to segregation, urban grid plan fraying and overcrowded cities culminating in social and identity conflicts.