dc.description.abstract | Diante da emblemática, desafiadora e sempre presente questão da morte, a teologia cristã tem
buscado no mistério pascal de Cristo as respostas e seguranças para enfrentar esta paradigmática
questão. Em dois milênios de existência e expansão pelo mundo, o cristianismo funda-se na
certeza fundamental da ressurreição como o ato decisivo da história da salvação e, portanto, da
história pessoal de cada homem e mulher de todos os tempos. É nesse contexto que o teólogo
suíço Hans Urs von Balthasar desponta como um dos nomes mais notáveis da teologia do século
passado, considerando a envergadura de sua reflexão escatológica no corpo de sua robusta
produção teológica. Os escritos de Balthasar acerca do mistério pascal foram abordados nesse
trabalho como forma de apresentar os elementos basilares da fé cristã na inegociável certeza da
vida eterna, maneira pela qual a morte não significa fim da existência humana, mas abertura
para uma realidade maior, transcendente e plena de sentido. Contudo, a obra balthasariana está
indicada como pressuposto teológico para um diálogo com outra área do saber: a medicina
paliativa. Através da metodologia da analogia estrutural, os textos de Balthasar foram lidos ao
lado de uma obra de uma renomada médica especializada em cuidados paliativos, Ana Cláudia
Quintana Arantes. A publicação de suas experiências ao longo de uma década trabalhando com
pessoas na eminência de sua morte colaborou para que teologia e medicina se encontrassem
num mesmo horizonte de sentido e de atuação: diante do sofrimento, da morte e da finitude, o
homem ressignifica sua existência, revisita e compreende o sentido de sua vida justamente
através de sua morte. Quando se acrescenta o dado da fé a este processo, as afinidades entre os
escritos de Balthasar e Arantes ficam ainda mais estreitas. É, portanto, no diálogo
metodologicamente ordenado que teologia e medicina se iluminam mutuamente e ambas se
encontram no mesmo ponto: o homem, consciente de sua finitude, caminha pelo temporal, pelo
efêmero, com desejo de eternidade, de plenitude. É a plenitude da vida através da morte,
proclamada pela teologia de Balthasar e constatada pela medicina paliativa de Arantes. | pt_BR |