Teste de criatividade figural: investigação das qualidades psicométricas para uso em idosos

Abstract

O avanço da sociedade, a transformação tecnológica, bem como a exigência de soluções rápidas aos problemas, tem feito com que a criatividade assuma grande importância nos mais variados contextos. Nesse contexto, a dissertação investigou as qualidades psicométricas do Teste de Criatividade Figural Infantil (TCF-AA) para uso em idosos. O teste é composto por duas atividades, que deverão ser respondidas sob a forma de desenhos, a partir de estímulos pouco definidos. Avalia 12 características, agrupadas em quatro fatores (Enriquecimento de Ideias, Aspectos Externos, Aspectos Cognitivos e Aspectos Emocionais). Quatro estudos foram realizados, sendo que os dois primeiros envolveram amostras de diferentes idades, incluindo idosos e, os demais, somente idosos. O primeiro estudo visou a elaboração da lista de frequência de respostas comumente apresentadas pelos respondentes, para cada atividade e estímulo. Aquelas que foram fornecidas por mais de 5% da amostra foram consideradas comuns e, portanto, não devem ser pontuadas na característica de originalidade. O mesmo tipo de análise foi conduzido em subamostras, de acordo com a faixa etária (14 a 20 anos, 21 a 40 anos, 41 a 59 anos e maior do que 60 anos). O segundo estudo buscou analisar os itens do teste, a partir da Teoria de Resposta ao Item. A amostra foi composta por 793 participantes, com idades entre 14 e 87 anos (M = 29,8 anos; DP = 20,5), 52,7% do sexo feminino e diferentes níveis de escolaridade, provenientes de duas regiões do Brasil (nordeste = 355 e sudeste = 438). Os resultados indicaram que as características de originalidade, fantasia, expressão de emoção e uso de contexto são as que apresentam maior nível de dificuldade para serem pontuadas e, portanto, melhor diferenciam indivíduos com maior potencial criativo. O terceiro estudo buscou investigar as evidências de validade com base em critério externo do tipo concorrente, a partir da comparação do resultado no TCF-AA com outro teste de avaliação da criatividade (Teste Pensando Criativamente com Figuras de Torrance - PCFT). A amostra foi composta por 107 sujeitos, com idades entre 60 e 87 anos (M = 68,83; DP = 6,45), 76,6% do gênero feminino e diferentes níveis de escolaridade. Os resultados indicaram que, entre o total do TCF-AA e do PCFT apresentaram correlação positiva e significativa (r = 0,575; p < ,001) confirmando o tipo de evidência de validade investigada. Outras correlações entre os fatores do TCF-AA e os índices criativos figurais do teste de Torrance também se mostraram significativas. O quarto estudo buscou investigar a precisão do instrumento por meio do teste e reteste. A amostra foi composta por 179 sujeitos, com idades entre 14 e 80 anos (M = 40,22; DP = 19,26), a maioria do sexo feminino e diferentes níveis de escolaridade. As aplicações foram feitas com intervalo de 15 dias. As pontuações entre os dois momentos foram comparadas por meio da correlação de Spearman e indicaram valor positivo e significativo no total do teste (r = 0,674; p< 0,001) e, entre os fatores, variou entre r = 0,334 e r = 0,668. A mesma análise foi repetida separando-se os participantes de acordo com a faixa etária. O teste de diferença de média Wilcoxon foi aplicado e indicou diferenças significativas em algumas faixas etárias do fator 1, 3 e pontuação total, sempre com médias mais altas no momento do reteste. De modo geral, podemos verificar que os objetivos foram atingidos, de modo a somar estudos de investigação das qualidades psicométricas ao instrumento, indicando sua adequação para uso em idosos. Considerando-se o número restrito de testes que possuem amostra normativa que inclui idosos, os estudos aqui apresentados podem ampliar as possibilidades de avaliação válida e precisa dessa população.

The advancement of society, technological developments, and the need for quick solutions to problems have all contributed to the increased importance of creativity in a variety of settings. This dissertation examined the psychometric properties of the Children's Figural Creativity Test (TCF-AA) for use with elderly individuals. This test consists of two activities in which the answers must be provided as drawings, using poorly defined stimuli. A total of 12 characteristics are evaluated, which are grouped into four categories (Idea Enrichment, External Aspects, Cognitive Aspects, and Emotional Aspects). There were four studies conducted, with the first two involving samples of different ages, including elderly individuals, and the other two involving only elderly individuals. The first study aimed to compile a frequency list of responses commonly presented by respondents in response to each activity and stimulus. As a result, those that were provided by more than 5% of the sample were considered as common and should not be considered for the originality characteristic. A similar type of analysis was conducted on subsamples based on age group (14- to 20-year-olds, 21- to 40-year-olds, 41- to 59-year-olds, and over 60 years old). In the second study, the test items were analyzed based on the item response theory. In total, there were 793 participants, aged 14 to 87 years (M = 29.8 years; SD = 20.5), 52.7% female, and with varying educational levels, from two regions of Brazil (north = 355 and southeast = 438). Results indicate that originality, fantasy, emotion, and context are those characteristics that present the greatest level of difficulty to score and, therefore, better differentiate those with greater creativity. As part of the third study, the results of the TCF-AA were compared with the results of another creativity assessment test (Thinking Creatively with Figures by Torrance - TCFT). The sample consisted of 107 subjects aged 60 to 87 years (M = 68.83; SD = 6.45), 76.6% of whom were female and with varied levels of education. Results indicated that the TCF-AA total and TCFT total showed a significant positive correlation (r = 0.575; p 0.001), confirming the validity evidence. The TCF-AA factors and the figural creative indices of the Torrance test also showed significant correlations. In the fourth study, the reliability of the instrument was examined through testing and retesting. This study included 179 subjects ranging in age from 14 to 80 years (M = 40.22; SD = 19.26), the majority of whom were females and had various levels of education. A 15-day interval was observed between applications. Using Spearman correlation, the scores between the two moments were compared, indicating a significant positive correlation in the total test (r = 0.674; p  0.001), while it varied between factors (r = 0.334 to r = 0.668). We repeated the same analysis, dividing participants by age group. The Wilcoxon mean difference test was applied and indicated significant differences in some age groups of factors 1, 3 and total score, always with higher means at the time of retest. In general, we can conclude that the objectives were met, enabling us to conduct research on the psychometric qualities of the instrument, indicating its appropriateness for use with older adults. Considering the limited number of tests that have a normative sample that includes elderly people, the studies presented here can enhance the possibilities of valid and accurate assessment of this population.