A relação entre criatividade, desfusão cognitiva e dificuldades em regulação emocional

Abstract

A criatividade é uma das principais competências demandadas no século XXI e constitui um elemento fundamental da humanidade, com potencial para trazer significado e alegria às pessoas, além de apresentar uma relação positiva com a saúde mental. A desfusão cognitiva é uma estratégia psicoterapêutica típica das terapias cognitivo-comportamentais contextuais, que visa promover o distanciamento de pensamentos desadaptativos. É considerada uma alternativa às intervenções tradicionais e pode ser compreendida como uma forma voluntária de flexibilidade cognitiva. As dificuldades em regulação emocional têm sido associadas a uma ampla gama de transtornos mentais, sendo sua avaliação um indicador clínico relevante. Assim, esta pesquisa teve como objetivo geral investigar as relações entre criatividade, desfusão cognitiva e dificuldades em regulação emocional, bem como os possíveis papéis de mediação entre esses constructos. A amostra foi composta por 202 brasileiros, incluindo pessoas do gênero feminino (81,19%), masculino (17,82%) e outras identidades de gênero (0,99%), com idades entre 18 e 57 anos (M = 25,25; DP = 9,07). A maioria (51,49%) havia feito psicoterapia por mais de um ano, seguida por 30,20% que fizeram por até um ano e 17,82% que nunca fizeram. Instrumentos utilizados: Teste de Pensamento Criativo da Bateria de Avaliação Intelectual e Criativa para Adultos (PC-BAICA), Questionário de Fusão Cognitiva (CFQ-7), Escala de Dificuldades em Regulação Emocional – versão reduzida (DERS-16) e um questionário sociodemográfico. As análises de dados incluíram testes de correlação de Pearson e Spearman, Modelagem por Equações Estruturais (MEE) e Análises de Variância (ANOVA). Resultados: Quanto maior a criatividade, maior o escore de desfusão (r = 0,16; p < 0,05) e menores as dificuldades em regular as emoções (rho = -0,15; p < 0,05). A desfusão cognitiva apresentou correlação significativa, negativa e de magnitude forte com as dificuldades em regulação emocional (rho = -0,73; p < 0,001), atuando como variável mediadora entre criatividade e dificuldades em regular as emoções, o que evidenciou uma direcionalidade de processo: a criatividade influencia a desfusão (β = 0,15; p < 0,05), que, por sua vez, prediz menores dificuldades em regular as emoções (β = -0,82; p < 0,001). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nas médias dos constructos em função do histórico de realização de psicoterapia.

Creativity is one of the core competencies demanded in the 21st century and constitutes a fundamental aspect of humanity, with the potential to bring meaning and joy to people’s lives, in addition to showing a positive relationship with mental health. Cognitive defusion is a typical psychotherapeutic strategy in contextual cognitive-behavioral therapies, aimed at promoting psychological distance from maladaptive thoughts. It is considered an alternative to traditional clinical interventions and may be understood as a voluntary form of cognitive flexibility. Difficulties in emotion regulation have been associated with a wide range of mental disorders, and their assessment is considered a relevant clinical indicator. Accordingly, the main objective of this study was to investigate the relationships among creativity, cognitive defusion, and difficulties in emotion regulation, as well as the potential mediating roles among these constructs. The sample consisted of 202 Brazilian participants, including individuals identifying as female (81.19%), male (17.82%), and other gender identities (0.99%), aged between 18 and 57 years (M = 25.25; SD = 9.07). Most participants (51.49%) had undergone psychotherapy for more than one year, followed by 30.20% who had done so for up to one year, and 17.82% who had never engaged in psychotherapy. The instruments used were: the Creative Thinking Test from the Intelligence and Creativity Adult Battery (PC-BAICA), the Cognitive Fusion Questionnaire (CFQ-7), the Difficulties in Emotion Regulation Scale – short version (DERS-16), and a sociodemographic questionnaire. Data analyses included Pearson and Spearman correlation tests, Structural Equation Modeling (SEM), and Analysis of Variance (ANOVA). Results showed that higher levels of creativity were associated with greater cognitive defusion (r = 0.16; p < .05) and fewer difficulties in emotion regulation (rho = –0.15; p < .05). Cognitive defusion was strongly and negatively correlated with difficulties in emotion regulation (rho = –0.73; p < .001), acting as a mediating variable between creativity and emotion regulation difficulties, revealing a directional process: creativity influenced defusion (β = 0.15; p < .05), which in turn predicted fewer difficulties in regulating emotions (β = –0.82; p < .001). No statistically significant differences were found in the construct means based on participants' psychotherapy history.