| dc.description.abstract | Segundo Karl Rahner (1964), o cristão, sendo um ouvinte da Palavra de Deus encarnada
na história, deve estar capacitado, exercitado e agraciado para ouvir a palavra poética que
é a palavra mediante a qual o mistério se torna presente. A poesia é parte essencial do
humano porque evoca o Mistério Inefável presente no humano e no mundo. Assumindo
como justificativa a palavra do teólogo, colocamo-nos, a partir da teologia, à escuta
de Sophia de Mello Breyner Andresen, com o objetivo de explicitar em seus poemas a
relação entre mística e poesia. A proposta deste artigo é apontar os elementos místicos
presentes na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), tendo como
referências os teólogos K. Rahner, J. Moltmann, E. Schillebeeckx e J. B. Metz. Mais
especificamente sobre o fenômeno místico e suas características essenciais, recorremos
à análise fenomenológica de Juan Martin Velasco e à abordagem histórica de Bernard
McGinn. No que diz respeito ao diálogo com a crítica literária, contamos principalmente
com o estudo realizado por Carlos Ceia. Na escuta dos poemas de Sophia, tomando o
cuidado de não fazer uma identificação ingênua entre o discurso literário e a teologia da
revelação, como recomenda Kuschel, procuramos reconhecer a presença de elementos
místicos, especialmente relacionados com o estilo despojado (gosto pela simplicidade)
e a experiência de Deus como Mistério Santo na contemplação da natureza, elementos
que se desdobram na manifestação de um anseio de justiça, possibilitando aproximar a
obra da poeta de uma “Mística de Olhos Abertos” (Metz). | |