Escala de rastreio de autismo infantil brasileira: construção e estudos psicométricos

Abstract

Apesar dos esforços nacionais para o desenvolvimento de instrumentos de rastreamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), ainda há escassez de escalas validadas psicometricamente e alinhadas às diretrizes diagnósticas mais recentes. Esta dissertação teve como objetivo desenvolver e investigar as propriedades psicométricas iniciais da Escala de Rastreamento de Autismo Infantil Brasileira (ERAI), instrumento voltado à detecção precoce de sinais do TEA em crianças brasileiras de 2 a 11 anos. A pesquisa foi estruturada em três estudos. O primeiro teve como objetivo elaborar os itens da escala com base em evidências teóricas e critérios psicométricos. O segundo consistiu na validação de conteúdo, realizada por quatro juízas especialistas, com base em análise percentual. O terceiro estudo, de natureza qualitativa, objetivou investigar e comparar a percepção de psicólogos e pais de pessoas com TEA sobre as características do autismo, envolvendo 50 participantes – sendo 37 psicólogos e 13 pais de crianças com autismo. A análise de concordância entre as quatro juízas permitiu a formulação de uma versão mais refinada da escala, que passou de uma proposta inicial de 70 itens para 60. O resultado comparativo entre psicólogos e pais indicou que os psicólogos demonstraram alto grau de concordância com as respostas consideradas ideais, o que evidencia a afinidade da escala com o conhecimento técnico e clínico necessário para o rastreamento do TEA. Já os responsáveis apresentaram padrões mais heterogêneos de resposta, com menor índice de concordância. Foram identificadas limitações no presente estudo, indicando a necessidade de continuidade da investigação. Recomenda-se a realização de análises adicionais, aplicação em amostras mais amplas e representativas, incluindo crianças com desenvolvimento típico, com TEA e com outras condições do neurodesenvolvimento, visando aferir sua sensibilidade e especificidade diagnóstica. Conclui-se que a ERAI pode contribuir para o rastreio de indivíduos com TEA. Sua futura incorporação à prática profissional poderá contribuir significativamente para o rastreamento precoce do TEA.

Despite national efforts to develop screening instruments for Autism Spectrum Disorder (ASD), there remains a shortage of psychometrically validated scales aligned with the most recent diagnostic guidelines. This dissertation aimed to develop and examine the initial psychometric properties of the Brazilian Child Autism Screening Scale (ERAI), an instrument designed for the early detection of ASD signs in Brazilian children aged 2 to 11 years. The research was structured into three studies. The first aimed to construct the scale items based on theoretical evidence and psychometric criteria. The second study involved content validation, conducted by four expert judges through percentage agreement analysis. The third, a qualitative study, sought to investigate and compare the perceptions of psychologists and parents of individuals with ASD regarding the characteristics of autism, involving 50 participants—37 psychologists and 13 parents of children with autism. The agreement analysis among the four judges led to a more refined version of the scale, reducing it from an initial 70 items to 60. The comparative results between psychologists and parents indicated that psychologists showed a high degree of agreement with the responses considered ideal, highlighting the scale’s alignment with the technical and clinical knowledge required for ASD screening. In contrast, caregivers demonstrated more heterogeneous response patterns, with lower levels of agreement. The study identified limitations, indicating the need for continued investigation. Additional analyses are recommended, including application to broader and more representative samples— encompassing children with typical development, ASD, and other neurodevelopmental conditions—to assess the scale’s diagnostic sensitivity and specificity. It is concluded that the ERAI may contribute to the screening of individuals with ASD. Its future incorporation into professional practice could significantly enhance early ASD screening.