Entre sonhos e pesadelos: Imaginário Coletivo de profissionais acerca do adolescente na saúde mental

Abstract

Objetivamos investigar o imaginário coletivo de profissionais da saúde mental pública sobre adolescentes com transtornos mentais e suas perspectivas futuras. Justifica-se como produção de conhecimento compreensivo que, considerando o desafio de cuidar de pessoas adolescentes em condições de interseccionalidades desfavoráveis, como pertencimento a classes subalternizadas e transtornos psiquiátricos, possa contribuir para o aprimoramento da atuação clínica de equipes de saúde. Organiza-se teórico-metodologicamente como pesquisa qualitativa empírica, com uso do método psicanalítico informado por teorizações dramático-vinculares, incluindo-se entre as perspectivas relacionais que prosperam na psicanálise contemporânea. Realizamos entrevistas coletivas transicionais, organizadas ao redor do uso do Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema (PDE-T), com 15 profissionais de um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi), em três grupos de cinco participantes. Solicitamos que desenhassem e escrevessem uma história sobre “Uma pessoa adolescente na saúde mental” e, em seguida, sobre “Essa pessoa adolescente daqui a 10 anos”. A interpretação preliminar do material produzido pelos participantes indicou lacunas de sentido e demanda profissional por acolhimento, escuta qualificada, capacitação e reflexão clínica, o que nos levou a criar uma modalidade de entrevista devolutiva, objetivando compartilhar nossos achados e oferecer uma nova experiência de escuta. Criamos uma Narrativa Interativa Devolutiva (NID), como recurso dialógico desenvolvido a partir das produções imaginativas sobre o futuro dos adolescentes. Os encontros foram registrados sob forma de Relato Associativo Inicial (RAI), derivados lembranças e memórias. RAIs e PDE-Temas foram compartilhados com o grupo de pesquisa a fim de ampliar os sentidos interpretativos e lapidar a elaboração de Narrativas Transferenciais (NT), nas quais descrevemos o encontro inter-humano em termos de interações, ocorrências, impressões e sentimentos subjetivos da pesquisadora, além dos Desenhos-estória. Esse material subsidiou a produção interpretativa de três campos de sentido afetivo-emocional, subjacentes ao imaginário coletivo sobre os adolescentes: “Ponto de interrogação sem fim”, “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” e “Rede de desamparados”, que evidenciam, respectivamente, que o adolescente é visto como uma grande incógnita pelos profissionais, dificultando a aproximação com o drama vivido. Já no futuro, os profissionais projetam fantasias de sucesso e inclusão para os adolescentes, que superariam as adversidades vividas no passado. Identificamos, por fim, que há um sentimento de desamparo e exclusão compartilhado por adolescentes e profissionais. Concluímos que ainda que os profissionais se sintam solitários e desafiados pela complexidade da tarefa, mantêm viva a esperança no trabalho que realizam, apontando, porém, para a importância de desenvolvermos ações de cuidado aos profissionais, de modo a promover a saúde mental destes e qualificar o cuidado ofertado a adolescentes na saúde mental.

We aimed to investigate the collective imaginary of public mental health professionals about adolescents with mental disorders and their future perspectives. It is justified as the production of comprehensive knowledge that, considering the challenge of caring for adolescents in conditions of unfavorable intersectionalities, such as belonging to subordinate classes and psychiatric disorders, can contribute to improve the clinical care of health teams. It is organized theoretically-methodologically as empirical qualitative research, using the psychoanalytic method informed by dramatic-bind theories, including itself among the relational perspectives that thrive in contemporary psychoanalysis. We conducted transitional collective interviews, organized around the Thematic Drawing and Story Procedure, with 15 professionals from a Child and Youth Psychosocial Care Center in three groups of five participants. We asked them to draw and write a story about “A teenager in mental health care”, and then about “That teenager in 10 years”. The preliminary interpretation of the material produced by the participants indicated meaning gaps and professional demand for support, qualified listening, training, and clinical reflection, which led us to create a form of feedback interview. We created a Feedback Interactive Narrative as a dialogical resource developed from the imaginative productions about the future of the teenagers. The meetings were registered as an Initial Associative Report (IAR) derived from memories. IARs and Drawings-story were shared with the research group to expand the interpretative meanings and refine the elaboration of Transference Narratives, in which the inter-human encounter is described in terms of interactions, occurrences, impressions, and subjective feelings of the researcher in addition to the Drawings-story. This material supported the interpretative production of three affectiveemotional meaning fields underlying the collective imaginary about adolescents: “Endless question mark”, “Last year I died, but this year I won't die”, and “Network of the helpless,” which respectively show that adolescents are seen as a great unknown by professionals, making it difficult to get closer to the drama they experienced. In the future, professionals project fantasies of success and inclusion for adolescents, who would overcome the adversities experienced in the past. Finally, we identified feelings of helplessness and exclusion shared by adolescents and professionals. We conclude that even though professionals feel lonely and challenged by the complexity of the task, they keep hope alive in the work they do, pointing out, however, the importance of developing care actions for professionals to promote their mental health and qualify the care offered to adolescents in mental health.