Concepções sobre alfabetização: um estudo com professoras dos anos iniciais do ensino fundamental no contexto da pandemia de Covid-19

Abstract

Em março de 2020 o Brasil foi assolado pelo SARS Cov-2, popularmente denominado Coronavírus, causando a Covid-19. Em virtude deste acontecimento, diversas medidas precisaram ser tomadas, incluindo o isolamento social. As escolas fecharam as suas portas e o ensino remoto emergencial precisou ser implementado. Nesse viés, esta pesquisa insere-se na Linha de Pesquisa “Formação de Professores e Práticas Pedagógicas” e seu objeto de estudo é a alfabetização durante a pandemia da Covid 19. Assim, a questão problema que norteou o estudo foi: quais experiências de leitura e de escrita as crianças viveram no contexto remoto e como essas experiências têm sido consideradas, tendo em vista o processo de alfabetização no retorno às aulas presenciais? A partir desta questão, a pesquisa teve por objetivo geral identificar as possíveis relações entre alfabetização e letramento, levando em consideração o trabalho com a leitura e com a escrita realizado por professoras do ciclo de alfabetização durante o ensino remoto, retorno parcial e total às aulas presenciais. Os objetivos específicos são: (i) conhecer o trabalho realizado com a leitura e com a escrita no ensino remoto, retorno parcial e total às aulas presenciais; (ii) identificar as concepções de linguagem que embasam o trabalho das professoras; (iii) relacionar as concepções e as práticas das professoras com o disposto na Política Nacional de Alfabetização (PNA). O método caracteriza-se por uma abordagem qualitativa e o instrumento escolhido para a produção do material empírico foi a técnica de grupo focal. Participaram da pesquisa cinco professoras que atuam em diferentes escolas municipais do interior do estado de São Paulo. Os resultados mostraram que o tempo de resposta de cada prefeitura variou significativamente. Algumas, logo após a suspensão das aulas presenciais iniciaram as primeiras orientações para o início do ensino remoto. Outras levaram mais tempo, acarretando um distanciamento entre as famílias e as professoras, o que gerou muita insatisfação de ambos os lados. As dificuldades de conectividade e de interatividade, em virtude da escassez de equipamentos de boa parte das famílias levou a um baixo retorno dos alunos. Em relação à volta parcial às aulas, iniciou-se em diferentes períodos, a depender da organização de cada município. Nesse modelo, a turma era dividida em dois ou três grupos de alunos, que alternavam a ida à escola com as atividades remotas. O retorno 100% presencial aconteceu em algumas redes no final de 2021 e, em outras, no início de 2022. Os maiores desafios enfrentados pelas professoras nesse retorno referem se a problemas de socialização entre os alunos, organização do caderno e irregularidade em relação à assiduidade da turma. O número elevado de faltas comprometeu o andamento no processo de alfabetização. Sobre as experiências de leitura e de escrita, foram apresentadas em eixos, tomando como referência as práticas de linguagem: oralidade, leitura, produção escrita e análise e reflexão linguística. Consideramos importante destacar que as docentes buscaram contemplar a alfabetização em uma perspectiva de letramento, mesmo durante o ensino remoto. Isso ocorreu pela concepção de linguagem que norteia o trabalho das delas: a leitura e a escrita baseada na construção de sentido e de significado por parte dos alunos.

In March 2020 Brazil was devastated by SARS Cov-2, popularly known as Coronavirus, causing the Covid-19 pandemic. Many measures had to be taken, including social distancing. The schools were closed, and emergency remote learning had to be implemented. In this bias, this work is inserted a line of research called “Teacher´s Training and Pedagogical Practices” and its object of study is literacy during the Covid-19 pandemic. Thus, the problem question that guided the study was: what reading and writing experiences did the children have in the remote context and how have these experiences been considered, in view of the literacy process, when returning to face-to-face classes? Based on this question, the research's general objective was to identify the possible relations between reading instruction and literacy, based on the work with reading and writing carried out by teachers of the literacy cycle during remote teaching, partial and total return to presential classes. The specific objectives are: (i) to know the work done with reading and writing in remote teaching, partial and full return to classes; (ii) to identify the conceptions of language that underlie the teachers' work; (iii) to relate the conceptions and practices of teachers with the provisions of the National Literacy Policy (PNA). The method is characterized by a qualitative approach and the instrument chosen for the production of the empirical material was the focus group technique. Five teachers who work in different municipal schools in the interior of the state of São Paulo participated in the research. The results showed that the response time of each prefecture varied greatly. Some, soon after the suspension of the on-site classes, started the first orientations for the beginning of remote teaching. Others took longer, leading to a distancing between families and teachers, generating a lot of dissatisfaction on both sides. The difficulties of connectivity and interactivity, due to the lack of equipment in most families, led to a low return of students. Regarding the partial return to school, it started in different periods depending on the organization of each municipality. In this model the class was divided into two or three groups of students, who alternated going to school with remote activities. The return to 100% face-to-face work happened in some places at the end of 2021 and in others at the beginning of 2022. The biggest challenges faced by the teachers in this return were related to problems of socialization among students, notebook organization, and irregularity in relation to class attendance. The high number of absences compromised the progress of the literacy process. As for the reading and writing experiences, they were presented in axes, taking as reference the language practices: orality, reading, written production and linguistic analysis and reflection. Regarding the reading and writing experiences, we believe it is important to highlight that the teachers sought to contemplate reading instruction from a literacy perspective even during remote teaching. This occurred due to the conception of language that guides the teachers' work: reading and writing based on the construction of meaning and significance by the students.