Educação Infantil e Pandemia da Covid-19: narrativas das famílias

Abstract

O presente estudo, realizado no Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC Campinas, na linha de pesquisa Formação de Professores e Práticas Pedagógicas junto ao grupo de pesquisa Formação e Trabalho Docente, discutiu as práticas educativas da Educação Infantil no contexto do atravessamento da Pandemia da Covid-19. O estudo articulou-se com reflexões sobre a relação família e escola, optando por ouvir os familiares na busca por compreensões de como estes perceberam o referido período. Partindo dessas considerações, formulei o seguinte problema de pesquisa: quais são as significações das famílias sobre as proposições realizadas na Educação Infantil, em relação ao desenvolvimento das crianças durante o período de isolamento social da pandemia de Covid-19? Meu objetivo central é discutir as significações das famílias em relação às práticas pedagógicas realizadas na Educação Infantil ao longo do distanciamento social imposto pela pandemia. A abordagem da pesquisa foi narrativa e priorizou a construção do material empírico por meio de narrativas orais, produzidas por um grupo de 12 participantes que integraram as famílias de crianças que estiveram matriculadas na Educação Infantil no período de isolamento social em uma das unidades das escolas colaboradoras da Secretaria Municipal de Educação (SME) de Campinas/SP. A fundamentação teórica inspirou-se em conceitos freireanos, dentre eles os de dialogicidade e comunidade, fundamentais para a educação como prática de liberdade. Entendendo como ideia central para este autor que ensinar não é apenas transmitir conhecimento, e o diálogo surge como uma ferramenta poderosa, em que diferentes visões são valorizadas e respeitadas. É por meio do diálogo que se constrói o conhecimento de forma colaborativa, estimulando o pensamento crítico e a autonomia dos alunos. As análises, foram realizadas a partir do Paradigma Indiciário, uma abordagem que orientou a investigação e a interpretação dos dados coletados. O estudo apresenta, as implicações das mudanças nas práticas pedagógicas durante esta pandemia, revelando como as escolas ajustaram e reinventaram suas abordagens diante dos desafios impostos. Questões como a adaptação às tecnologias digitais, a manutenção do engajamento das crianças em atividades remotas e o suporte emocional oferecido pelas instituições de ensino emergiram como temas fundantes. Além disso, investiguei os desencontros entre as expectativas das famílias e as ações das escolas, destacando as propostas e negociações possíveis para sustentar o processo educativo em um contexto tão adverso. Os limites enfrentados, tanto pelas famílias quanto pelas educadoras/es, foram analisados a partir da influência das condições materiais, sociais e emocionais sobre a eficácia das práticas pedagógicas. Pretendi apontar as compreensões sobre o ambiente escolar e a organização intencional das profissionais da educação, evidenciando como essa estrutura pôde favorecer uma relação dialógica e emancipadora entre família e escola, promovendo uma colaboração que contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento das crianças. Por fim, destacaram-se as possibilidades de trabalho partilhado e comunitário, promovidas pelas escolas durante o isolamento social, que permitiram a manutenção dos vínculos pedagógicos e o estreitamento das relações, respeitando as condições sanitárias vigentes no período da pandemia.

This study, conducted in the Graduate Program in Education at PUC Campinas, under the research line of Teacher Education and Pedagogical Practices, and within the research group Teacher Education and Work, discusses educational practices in Early Childhood Education during the Covid-19 pandemic. The study connects reflections on the family-school relationship, focusing on understanding how families perceived this period. From these considerations, we formulated the following research question: What are families' perceptions of the proposals made in Early Childhood Education, considering children's development during the period of social isolation caused by the Covid-19 pandemic? Our main objective is to discuss the perceptions/meanings families attribute to the pedagogical practices carried out in Early Childhood Education during the period of social distancing. The research adopts a narrative approach, constructing empirical material through oral narratives produced by a group of 12 participants, all members of families whose children were enrolled in Early Childhood Education during the isolation period at one of the schools collaborating with the Municipal Education Department (SME) of Campinas/SP. The theoretical foundation draws on Freirean concepts, particularly those of dialogicity and community, which are fundamental for education as a practice of freedom. A central idea for Freire is that teaching is not merely about transmitting knowledge, and dialogue emerges as a powerful tool where different viewpoints are valued and respected. It is through dialogue that knowledge is collaboratively constructed, fostering critical thinking and student autonomy. The analyses, grounded in the Indiciary Paradigm, go beyond identifying families' perceptions of the pedagogical work with young children. The study delves deeply into the implications of changes in pedagogical practices during the pandemic, revealing how schools adjusted and reinvented their approaches to meet the challenges imposed by the situation. Issues such as adaptation to digital technologies, maintaining children's engagement in remote activities, and the emotional support offered by schools emerge as central themes. Additionally, the research explores the misalignments between families' expectations and the schools' actions, highlighting possible proposals and negotiations to sustain the educational process in such an adverse context. The limitations faced by both families and educators are analyzed in light of the influence of material, social, and emotional conditions on the effectiveness of pedagogical practices. Understanding the school environment and the intentional organization of education professionals demonstrates how this structure can foster a dialogical and emancipatory relationship between family and school, positively contributing to children's development. Finally, the study highlights the possibilities of shared and community-based work promoted by schools during social isolation, which helped maintain pedagogical bonds and strengthen relationships while respecting prevailing sanitary conditions.