Testes neuropsicológicos utilizados no Brasil para avaliação de memória em adultos - uma revisão narrativa

Abstract

A memória é uma função cognitiva essencial que permite a codificação, o armazenamento e a recuperação de informações, sendo indispensável para o aprendizado, linguagem, consciência e formação da identidade pessoal. Dentre suas subdivisões, destacam-se memória episódica e semântica, sendo a primeira responsável pelo registro de eventos específicos localizados no tempo e no espaço, permitindo ao indivíduo reviver experiências passadas com consciência autonoética e a segunda, armazena conhecimentos gerais sobre o mundo, conceitos e significados, sendo crucial para a linguagem e o raciocínio. A avaliação neuropsicológica dessas modalidades de memória tem se mostrado importância no diagnóstico e monitoramento de diversas condições clínicas, incluindo doenças neurodegenerativas, transtornos psiquiátricos, lesões cerebrais e o envelhecimento normal. Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão narrativa da literatura científica com foco na análise das propriedades psicométricas, aplicabilidades clínicas e limitações dos principais testes neuropsicológicos validados no Brasil para avaliação da memória episódica (verbal e visual) e da memória semântica em adultos. Foram exploradas as características técnicas dos instrumentos, como tempo de aplicação, sensibilidade diagnóstica, validade ecológica, disponibilidade de normas brasileiras, adequação cultural e limitações em populações específicas. Foram analisados instrumentos amplamente utilizados na prática clínica brasileira, como RAVLT, TESLIP, Figura Complexa de Rey, RUCHE-M, BAMS, MVR, Teste de Retenção Visual de Benton e TMR-R. A análise comparativa dos testes evidenciou que a escolha do instrumento deve considerar fatores como faixa etária, escolaridade, características clínicas do paciente, sensibilidade e especificidade do teste, tempo de aplicação, disponibilidade de normas brasileiras e adequação cultural. Embora muitos desses instrumentos já tenham demonstrado propriedades psicométricas satisfatórias, ainda há lacunas importantes na normatização para diferentes contextos socioculturais e regiões do país. Além disso, desafios como o acesso limitado a profissionais qualificados, a infraestrutura deficiente em serviços públicos e o estigma em torno da avaliação cognitiva dificultam a disseminação e o uso adequado dos testes. Por outro lado, avanços tecnológicos, como a digitalização dos instrumentos e o uso de plataformas online, oferecem novas possibilidades de aplicação, padronização e análise dos dados. A crescente valorização da avaliação neuropsicológica no contexto clínico e de pesquisa também aponta para a necessidade de formações específicas e políticas públicas voltadas à saúde cognitiva. Conclui-se que os testes de memória disponíveis no Brasil têm aplicabilidade clínica significativa, mas demandam constante revisão, atualização normativa e adaptações culturais. A seleção crítica e fundamentada dos instrumentos é essencial para garantir avaliações precisas, diagnósticos corretos e intervenções eficazes, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e para o fortalecimento da neuropsicologia como campo científico e clínico.

Memory is an essential cognitive function that enables the encoding, storage, and retrieval of information, being indispensable for learning, language, consciousness, and the formation of personal identity. Among its subdivisions, episodic memory stands out, responsible for registering specific events located in time and space, allowing the individual to relive past experiences with autonoetic consciousness, and semantic memory, which stores general knowledge about the world, concepts, and meanings, being crucial for language and reasoning. The neuropsychological assessment of these types of memory has proven important in the diagnosis and monitoring of various clinical conditions, including neurodegenerative diseases, psychiatric disorders, brain injuries, and normal aging. This study aimed to conduct a narrative review of the scientific literature focusing on the analysis of psychometric properties, clinical applications, and limitations of the main neuropsychological tests validated in Brazil for assessing episodic (verbal and visual) and semantic memory in adults. The technical characteristics of the instruments were explored, such as application time, diagnostic sensitivity, ecological validity, availability of Brazilian norms, cultural adaptation, and limitations in specific populations. Widely used instruments in Brazilian clinical practice were analyzed, such as the RAVLT, FCSRT, Rey-Osterrieth Complex Figure, RUCHE-M, BAMS – Battery for the Assessment of Semantic Memory, the Facial Memory Test, the Benton Visual Retention Test, and the Recognition Memory Test. The comparative analysis of the tests showed that the choice of instrument must consider factors such as age group, educational level, clinical characteristics of the patient, test sensitivity and specificity, application time, availability of Brazilian norms, and cultural adequacy. Although many of these instruments have already demonstrated satisfactory psychometric properties, significant gaps remain in standardization for different sociocultural contexts and regions of the country. Additionally, challenges such as limited access to qualified professionals, deficient infrastructure in public services, and the stigma surrounding cognitive assessment hinder the dissemination and proper use of these tests. On the other hand, technological advances such as test digitalization and the use of online platforms offer new possibilities for application, standardization, and data analysis. The growing appreciation of neuropsychological assessment in clinical and research settings also highlights the need for specific training and public policies focused on cognitive health. It is concluded that the memory tests available in Brazil have significant clinical applicability but require constant revision, normative updating, and cultural adaptations. The critical and well-founded selection of instruments is essential to ensure accurate assessments, correct diagnoses, and effective interventions, contributing to improved patient quality of life and the strengthening of neuropsychology as a scientific and clinical field.